terça-feira, 22 de março de 2011

Lição 13 - Paulo Testifica de Cristo em Roma (Pregação em Roma)

Chegada a Roma (Atos 28:11-16)

 28:11 / De acordo com Plínio, o velho, a estação do inverno, em que os mares estavam fechados à navegação, encerrava-se a 7 ou 8 de fevereiro. Podemos supor, então, que a estada dos viajantes de três meses em Malta encerrou-se ao redor desses dias. O navio em que reencetaram a viagem também era alexandrino, talvez outro navio cerealista, possi­velmente empurrado a essa ilha pela mesma tempestade que trouxera Paulo e os demais a suas praias. Tinha por "insígnia" Castor e Pólux, os deuses gêmeos. Pode ser correto dizer com GNB que o navio era chamado por esse nome, mas a expressão talvez se referisse a uma
figura de proa (como diz NIV). Cirilo de Alexandria nos conta que seus patrícios tinham o hábito de ornamentar cada lado da proa com figuras de deidades. Neste caso, eram os dois filhos gêmeos de Zeus e Leda, Castor e Pólux, os "santos patronos" dos navegadores do mundo antigo. A menção deste pormenor irrelevante é sinal seguro de que temos aqui uma testemunha ocular.
28:12 / O navio levou-os primeiro a Siracusa, a capital romana da Sicília, , cobrindo uma distância de cerca de cento e quarenta e quatro quilômetros a partir de Malta. Ali permaneceram três dias, à espera, talvez, do vento do sul.
28:13 / Há alguma incerteza no texto grego a respeito deste versículo. Uma texto de boa aceitação diz que eles "fizeram um círculo" até Régio, o que é estranho, visto que Régio ficava em linha reta, partindo de Siracusa. Talvez seja um termo do jargão náutico. Diz Ramsay que talvez não soprasse o vento pelo qual esperavam, mas "mediante boa técnica de navegação conseguiram chegar a Régio" (é assim que ele traduz a passagem; Paul, p. 345). A interpretação alternativa, encontrada em manuscritos alexandrinos, diz simplesmente que "eles partiram". Che­garam, pois, a Régio, a cerca de cento e dez quilômetros de Siracusa, até à praia italiana do estreito de Messina. Régio devia sua importância à dificuldade de navegar-se no estreito (que se dirá do sorvedouro de Charybdis e da rocha de Scylla? ), de modo que os navios tinham de esperar em seu porto até que houvesse um vento sumamente favorável, vindo do sul. Agora as coisas correram bem para os viajantes porque soprou no dia seguinte vento sul, e puderam fazer a viagem de duzentos e noventa quilômetros até Putéoli em apenas dois dias.
28:14 / Putéoli (a moderna Pozzuoli), na baía de Nápoles, na época era o porto mais importante da Itália. Era o principal terminal dos navios cerealistas alexandrinos, e também para os de passageiros, vindos do oriente e do ocidente, a caminho de Roma. Aqui, queixava-se Juvenal, "o Orontes sírio primeiro vomitava suas gentes a caminho do Tibre romano" (Satires 3.62; veja a disc. sobre 11:19). E foi aqui que se encontrava um grupo de cristãos. São descritos simplesmente como irmãos, mas pode-se pressupor serem cristãos distintos, portanto, dos judeus do v. 17, a quem Paulo se dirigiu chamando-os também de "irmãos". E provável que a igreja de Putéoli tivesse raízes na Alexandria, visto que o comércio entre ambas as cidades era considerável. A ausência do artigo definido no grego, "encontramos irmãos" (lit), indica que o autor não tivera conhecimento da presença deles de antemão. É possível que Paulo os houvesse encontrado em suas andanças pelas sinagogas, e novamente recebeu demonstrações de bondade pelo comandante Júlio, que lhe permitiu ficar com eles por sete dias. A demora de uma semana em Putéoli explica-se melhor pelo fato de Júlio ter de relatar sua chegada e receber ordens de seus superiores em Roma.
A declaração simples no final do v. 14, E assim nos dirigimos a Roma, não só marca a conclusão da narrativa da viagem, como repre­senta efetivamente o clímax do livro todo. É como Bengel há muito tempo observou: "Eis a vitória da palavra de Deus: Paulo em Roma, o clímax do evangelho, a conclusão de Atos". O v. 15 não passa de um adendo em que se mencionam alguns pormenores da viagem curta, por terra, à capital. Na verdade, todos os demais versículos do livro podem ser considerados sob esta luz, um simples polimento do v. 14, mostrando a maneira como o evangelho foi pregado em Roma, como havia sido primeiro "em Jerusalém", depois "em toda a Judéia e Samaria" e em todos os demais lugares, de tal modo que havia chegado aos "confins da terra" (1:8). A rota dessa parte final da jornada talvez os levasse pela via Campana a Cápua, cerca de trinta e dois quilômetros de Putéoli. Aqui, teriam tomado a via Ápia, "a estrada batida, conhecidíssima, a rainha das estradas" (Statius, Silvae 2.2.12), pela qual completaram os faltantes cento e noventa e dois quilômetros até Roma.
28:15 / Os cristãos da capital haviam recebido as notícias da chegada de Paulo — fosse porque ele próprio havia enviado recados, ou fosse porque os cristãos de Putéoli o fizeram — o fato é que um grupo deles se reuniu e saiu para encontrar-se com os viajantes (cp. Romanos 16:24). Houve dois grupos. Um encontrou-se com os viajantes antecipadamente, na Praça de Ápio (Fórum Appii), e o outro grupo em Três Vendas (Três Tabernae). A primeira dessas duas localidades fica a cerca de setenta quilômetros de Roma. Horácio afirmava que os viajantes cobriam essa distância da capital ao Fórum Appii em um dia, embora ele próprio preferisse fazê-lo em dois. Sua opinião da cidade não era lisonjeira, pois descrevia-a como "entupida de barqueiros e fedorentos taberneiros" (Satires 1.5.3-6). A cidade ficava no terminal norte de um canal que ligava os pântanos pontinos a Ferônia; os barqueiros de que Horácio se queixava faziam o transporte de passageiros em barquinhos puxados por mulas ao longo do canal. A via Ápia corria paralelamente ao canal, pelo que o centurião e sua comitiva teriam viajado pelo canal ou pela estrada. A incerteza quanto ao caminho que haveriam de tomar sem dúvida fez os cristãos esperá-los onde estavam esperando. A outra cidade, Três Vendas, era também um lugar de parada, a cerca de cinqüenta e três quilômetros de Roma. Pode ser que as três tabernae de seu nome teriam sido hospedadas, porém não necessariamente. Taberna em latim é qualquer tipo de loja. Aqui os viajantes encontraram-se com o segundo grupo de cristãos. Isto foi prova de que havia pessoas em Roma que não se envergonhavam do evangelho nem de Paulo, prisioneiro por amor de Cristo, o que levou Paulo a dar graças a Deus, e a receber disso grande conforto.
28:16 / Como o texto se nos apresenta, temos apenas uma breve nota sobre a chegada de Paulo a Roma, sendo-lhe permitido morar numa casa particular sob a guarda de um soldado. O texto ocidental, porém, acres­centa um pormenor interessante, segundo o qual o centurião entregou os prisioneiros agrupados ao "comandante" (gr. stratopedarch). Ainda que esse adendo não fizesse parte da narrativa original de Lucas, pode refletir uma tradição genuína. Não é improvável que Júlio de início houvesse ido à Castra Praetoria, o campo dos Pretorianos. Nesse caso, o coman­dante em questão pode ter sido Afrânio Burrus, que morreu em 62 d.C. É extraordinário que antes e depois dele houvesse dois comandantes (Tácito, Armais 12.42; 14:51), enquanto o singular neste texto pode refletir o fato de que Burrus ocupava esse cargo sozinho. É claro que a referência pode relacionar-se ao comandante a cargo dos prisioneiros, independentemente de haver ou não um colega (mas veja Sherwin-Whi-te, p. 110).
Se na verdade os prisioneiros foram levados à Castra Praetoria, que ficava depois dos muros a noroeste da cidade, teriam atravessado toda a cidade, tendo entrado pela Porta Capena, ao sul. Teriam tido, pois, a oportunidade de observar o que Plínio, o velho, dissera (mais ou menos nesta época) da cidade que excedera em tamanho todas as cidades do mundo (Natural History 3.66s.), e teriam experimentado, nas palavras de Horácio, "a fumaça e a riqueza e o barulho de Roma", a capital e eixo do império (Odes 3.29.12).


Paulo Prega em Roma (Atos 28:17-31)

 A cena final retrata algo que era da maior importância para Lucas, a saber, a proclamação do evangelho em Roma por Paulo. O padrão do ministério do apóstolo, que Lucas com toda fidelidade traçou noutras passagens, repete-se pela última vez. Tão cedo o apóstolo se estabelecera, entrou em contato com os líderes judeus a fim de explicar sua própria posição e falar-lhes de Cristo. Como ocorria em geral, uns poucos se interessaram; alguns teriam chegado a crer, mas a maioria permaneceu cética. Paulo declara, então, que a partir de agora a mensagem seria proclamada aos gentios. E assim o livro se encerra, como se deixasse ao leitor algo que se poderia chamar de programa da igreja. Lucas nada nos diz a respeito do relacionamento de Paulo com a igreja em Roma, e do apelo que o apóstolo havia feito. Entretanto, a sugestão que alguém fez de que Lucas ficou em silêncio a respeito da igreja a fim de apresentar Paulo como o pioneiro no trabalho missionário ali é fazer-lhe grande injustiça. Lucas havia reconhecido já a presença de cristãos em Roma (v. 15; cp. 18:2), e seu propósito agora era fazer que Paulo chegasse à cidade em demonstração (simbólica) de seu tema, segundo o qual as testemu­nhas do Senhor haviam saído de Jerusalém e chegado aos confins da terra (cp. 1:8).
28:17 / Parece que logo se fizeram acertos para que Paulo ficasse hospedado em algum lugar da cidade, pois, quando ele se encontrou com os líderes judaicos três dias após sua chegada, isto dificilmente teria acontecido na Castra Praetoria, ou noutra instituição militar ou governa­mental. Ele próprio pagava o aluguel da casa (veja a nota sobre o v. 30). Isto teria sido possível ou mediante a generosidade de amigos (cp. Filipenses 4:10, 14, 18) ou pelo fato de Paulo ter alguns recursos próprios (veja a nota sobre 21:24 e a disc. sobre 24:26). É possível que passasse a exercer sua profissão. De acordo com Ulpiano, eminente jurista romano do terceiro século d.C, os prisioneiros que aguardavam julgamento tinham permissão para trabalhar e morar em alojamentos particulares. As condições de Paulo poderiam ser descritas como "prisão domiciliar". Ainda estava algemado a um soldado, com uma corrente leve (v. 20), de modo que não podia entrar e sair como lhe agradasse; fora isso, todavia, gozava de considerável liberdade, de modo especial a de poder receber em sua casa a quem quer que desejasse (cp. Josefb, Antigüidades 18.168-178).
Sua primeira tarefa, desde que instalado em sua própria casa, foi convocar os principais dos judeus a fim de explicar-lhes sua posição — seria sua última defesa perante os judeus. Sabe-se que na antiga Roma teriam existido treze sinagogas pelo menos, embora nem todas existis­sem nessa época (veja as notas sobre 2:9-11) nem enviassem seus representantes a essa reunião. Os que compareceram teriam sido anciãos e líderes de sinagogas. A tentativa de Paulo de esclarecer a situação não foi coroada de pleno êxito, mas pelo menos conseguiu explicar por que era prisioneiro em Roma. Devia-se, disse o apóstolo, à agitação dos judeus contra ele. Atirara-se contra Paulo (ou contra seu relatório) a acusação de que ele distorceu os fatos ao atribuir aos judeus a principal responsabilidade de seu encarceramento, quando, na verdade, eles ape­nas incidentalmente tomaram parte nisso (cp. 21:33). Todavia, temos aqui apenas um resumo, não um relatório pormenorizado, e o que o apóstolo havia dito seria essencialmente verdadeiro, visto que sem dúvida Paulo estaria livre se os judeus não persistissem em sua persegui­ção. No entanto, nada fizera o apóstolo, afirma ele, contra seu povo ou contra seus costumes (cp. 25:8).
28:18 / Este versículo faz referência ao inquérito judicial conduzido por Félix e Festo, pelas quais não se conseguiu provar nenhuma das acusações contra Paulo. Mas em parte alguma se registrou, senão agora, que os governadores desejavam libertá-lo (queriam soltar-me). Quando Agripa manifestou sua opinião de que Paulo "bem podia ser solto" (26:32), Festo poderia ter concordado, como presumivelmente pelo menos concordou, tivesse afirmado isso ou não.
28:19 /Não ficou registrado que os judeus explicitamente se opuseram ao desejo do governador de libertar a Paulo, mas a oposição deles fica implícita com clareza na persistência com que mantiveram as acusações contra o apóstolo dois anos após (25:2, 7). A mesma pressuposição transparece na proposta de Festo, em 25:9. Crendo, portanto, que mais cedo ou mais tarde cairia vitimado pelos estratagemas de seus inimigos judeus, Paulo nenhuma outra opção tivera senão a de apelar para César. Todavia, ele desejava garantir aos judeus romanos que não desejava mal algum a seu povo. Paulo ainda se considerava um judeu, um israelita. Observe a linguagem conciliatória: "Irmãos", "os ritos paternos", (v. 17), minha nação.
28:20 / Por esta razão, a saber, eles ainda eram seu povo, Paulo pediu para ver os judeus romanos a fim de dizer-lhes o que havia acontecido. O que estava em jogo na verdade era "a esperança de Israel" no Messias e no reino (veja a disc. sobre 26:6s.), e a crença em que tanto o reino quanto o Messias haviam chegado. Em suma, ele suportava algemas romanas não por causa de alguma deslealdade contra seu povo, mas por lealdade à esperança que haviam compartilhado.
28:21 / Os líderes judaicos responderam que nada haviam ouvido a respeito daquele caso, nem por carta nem por mensageiro. Mas isso era de esperar-se. Houvesse Paulo sido enviado a Roma logo após seu apelo, o Sinédrio talvez não tivesse conseguido enviar um recado aos judeus romanos antes de o próprio Paulo chegar àquela cidade, visto que o apóstolo teria partido num dos primeiros navios para a Itália na abertura da estação de viagens marítimas. Entretanto, de modo algum é certo que o Sinédrio tivesse qualquer intenção de prosseguir no processo. Os judeus não haviam sido felizes ao processar Paulo perante Félix e Festo; depois, Festo e Agripa na verdade o consideraram inocente, inculpável de qualquer crime. A perspectiva judaica de conseguir a condenação de Paulo em Roma não tinha a menor probabilidade, e às vezes as autorida­des romanas davam um tratamento duro aos acusadores que não conse­guiam comprovar suas acusações. Tampouco podia o Sinédrio razoavel­mente esperar que os judeus de Roma aceitassem a causa que lhes teria sido encaminhada, visto que a própria situação deles nessa cidade era precária; dificilmente teriam desejado chamar a atenção sobre si mesmos mediante um processo contra Paulo. É muito provável, portanto, que nenhuma mensagem teria sido enviada da Judéia a Roma, e nenhuma carta haveria de chegar, por certo.
28:22 / Entretanto, embora os judeus romanos nada tivessem ouvido acerca dessa questão em particular, saberiam algo a respeito de Paulo, nada relacionado ao processo, e com toda certeza sabiam alguma coisa — e o que sabiam não era bom, disseram eles — com respeito a esta seita a que o apóstolo pertencia. Tinham interesse, portanto, em ouvir-lhe as idéias. É evidente que pouco contato havia agora entre os cristãos e os judeus de Roma (veja a disc. sobre 18:2 e as notas), que os impelisse a pedir a Paulo que lhes expusesse suas crenças, a menos, evidentemente, que o fizessem por mera polidez.
28:23 / Marcou-se uma data na qual Paulo lhes falaria, e ao chegar esse dia, um número bem grande de judeus (maior do que na vez anterior) apresentou-se em sua residência. Paulo passou o dia todo tentando persuadi-los a respeito de Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas, que Jesus era o cumprimento das Escrituras, e o Messias que haveria de estabelecer o reino de Deus (veja a disc. sobre 1:3 e as notas e disc. sobre 8:12). Esse sumário da pregação paulina aos judeus romanos corresponde a outros sumários anteriores, em 17:2s e 18:5. E possível que seu sermão seguisse, com pormenores mais abundantes, o padrão de sermão de 13:16-41.
28:24-27 / À semelhança da pregação, o resultado saiu fiel ao padrão. A mensagem de Paulo dividiu os ouvintes em dois grupos. Alguns eram persuadidos pelo que ele dizia, mas outros não criam (v. 24; cp. 14:4; 17:32). Isto parece ter sido, assim mesmo, um excelente resultado, mas que é que significa alguns eram persuadidos? Talvez nada mais signi­ficasse que eles estavam interessados e preparados para ouvir o que Paulo lhes tinha a dizer. O fato de Paulo, aparentemente, ter-lhes dirigido suas observações finais, a todos indistintamente, sugere que nenhum deles se vira persuadido ao ponto de crer que Jesus era o Messias. Entretanto, os tempos verbais estão no imperfeito, pelo que permanece a possibilidade de que esse processo de persuasão tenha prosseguido até que alguns se convertessem. No entretempo, os demais prosseguiram incrédulos ("ou­tros não criam").
Antes de os judeus partirem, embora eles ainda discordassem entre si (v. 25) — a palavra grega é asymphonoi, falta de harmonia — Paulo tinha uma última coisa a dizer. Mais com tristeza que com raiva ele mencionou as palavras de Isaías 6:9, 10, atribuindo-as ao próprio Espírito Santo (veja a disc. sobre 1:16). Estão reproduzidas aqui integralmente como citação da LXX. Paulo reconhecia que tais palavras haviam sido dirigidas primeiramente a uma geração anterior, mas seu cumprimento final ocorrera na geração dos judeus de seus dias, aqueles homens que não queriam "entender" nem "ver", pois, ouvindo, ouvireis, e de maneira nenhuma entendereis; vendo, vereis, e de maneira alguma percebereis, não desejando ouvir a verdade a respeito do pecado e da necessidade de salvação (vv. 26, 27). Estavam resistindo ao Espírito Santo (cp. 7:51) e, enquanto assim procedessem Paulo não se identifica­ria com eles, embora ele ainda se referisse a nossos pais (v. 25, como no v. 17). O próprio Jesus havia citado essas palavras de Isaías (Mateus 13:14s.), como João haveria de fazê-lo ao compor seu evangelho (João 20:40). Paulo já as havia utilizado ao escrever aos romanos (Romanos 11:8). A freqüência do uso significa que tal passagem havia passado para a lista de testemunhos do Antigo Testamento que proveriam à igreja uma explicação para a dureza do coração de Israel (veja C. H. Dodd, Scrip-tures, pp. 38s.).
28:28 / Entretanto, Paulo terminou com uma nota de triunfo: esta salvação de Deus é enviada aos gentios, e eles ouvirão (cp. 13:48). Devemos lembrar-nos, entretanto, de que isto havia sido falado num contexto do que Paulo já escrevera em Romanos 9-11, que Deus não havia rejeitado para sempre a seu povo. A incredulidade de Israel no presente momento significava que os gentios seriam chamados, mas essa inclusão dos gentios no reino com o tempo suscitaria um espírito de "ciúme"; Israel se voltaria e "todo o Israel será salvo" (Romanos 11:11, 26). Não podemos duvidar de que Paulo tenha falado dessa forma não meramente para condenar, mas com a esperança de que esses judeus romanos se arrependessem. De qualquer maneira o evangelho não falha­ria, mas seria pregado "até que a plenitude dos gentios haja entrado" (Romanos 11:25; cp. Isaías 55:11). Eles ouvirão é a palavra final de Paulo. Nada pode interromper a marcha da verdade de Deus "até os confins da terra" (1:8).
28:30-31 / À guisa de ilustração deste tema, Lucas nos dá um retrato não algo semelhante aos camafeus dos capítulos anteriores que mostram o firme crescimento da igreja (veja a disc. sobre 2:42-47) — mas o de Paulo realizando a obra de um evangelista a todos os que o visitavam em sua casa de aluguel (v. 30). Durante dois anos ele fez isso como prisioneiro, mas a palavra de Deus não estava presa (cp. 2 Timóteo 2:9). As palavras finais do livro: pregando o reino de Deus e ensinando com toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo, sem impedimento algum (v. 31; veja a disc. sobre 4:13) sublinham ao mesmo tempo a confiança pessoal de Paulo (cp. Filipenses 1:20) e o alvo que ele perseguia com alegria, ao pregar sobre o reino de Deus e... as coisas concernentes ao Senhor Jesus Cristo (v. 31; veja a disc. sobre 1:3 e as notas e a disc. sobre 8:12). Estes dois fatores — a ousadia do pregador e a proclamação a todas as pessoas — constituem as últimas impressões deste livro. Talvez sejam uma repreensão, e com certeza são um desafio e mapa a todos quantos lêem estas palavras. Lucas nos convida a que sigamos a Paulo e aos demais obreiros na missão e na devoção, no trabalho de estabelecer "o corpo de Cristo" neste mundo.

Notas Adicionais # 72

28:23 / Muitos foram... com ele à sua morada: Esta tradução baseia-se numa palavra grega que significa primordialmente "hospitalidade", de modo que essa frase poderia ser traduzida assim: "Muitos foram... pela hospitalida­de". Isto não significa que Paulo dava refeições a tais pessoas; significa apenas que eram seus hóspedes, visto que ele não podia ir aonde elas estavam.
28:30 / Paulo ficou dois anos inteiros na sua casa alugada, lit. "Paulo vivia às suas próprias custas", e em parte alguma encontramos o sentido de "uma casa alugada" para a palavra misthoma. No entanto, este significado expressa, sem dúvida, o resultado de Paulo ter um rendimento (veja o v. 17), o que é quase exigido pelo contexto.

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