sábado, 20 de novembro de 2010

Aprendizagem Cooperativa

No passado, aprender significava apenas memorizar. A partir do século XVII, Comenius ampliou e atualizou este conceito. Para o “pai da didática moderna”, aprender implica, primeiramente, compreender; depois, memorizar e por fim aplicar o conhecimento recebido. Hoje, sabe-se que aprender é um processo lento, gradual e complexo. Não significa somente acumular dados na memória, mas adaptar-se satisfatoriamente às mais diversificadas situações da vida, evidenciando mudança de comportamento.  Conforme lecionou Anísio Teixeira, ilustríssimo educador brasileiro, “fixar, compreender e exprimir verbalmente um conhecimento não é tê-lo aprendido. Aprender significa ganhar um modo de agir”. 

O aluno aprende cooperando com o outro 


O professor que incentiva a participação dos alunos em sala de aula promove a “aprendizagem cooperativa”, ou seja, a troca de experiências. Professores e alunos ajudam-se mutuamente, como parceiros no processo de ensino-aprendizagem.

Portanto, aprendizagem cooperativa ou colaborativa é um processo pelo qual os membros de um determinado grupo ajudam e confiam uns nos outros a fim de atingir um objetivo combinado. A sala de aula é um excelente lugar para desenvolver as habilidades de criação de um grupo.

O professor deverá enfatizar o ensino e a aplicação de estratégias de cooperação entre os alunos. O ponto de partida é reconhecer que os estudantes aprendem não apenas com o professor, mas também uns com os outros. Na Escola Dominical, isso pode ser verificado por meio de várias atividades sugeridas pelo professor, tais como trabalhos de grupos, estudos de casos ou discussões. De acordo com o que lecionou o educador americano John Dewey, “aprendemos quando compartilhamos experiências”.

O professor deverá criar situações que provoquem e estimulem a cooperação, proporcionando experiências que envolvam interação direta, dependência mútua e responsabilidade individual. Será necessário ainda, enfatizar a aprendizagem e o exercício das aptidões indispensáveis à cooperação, como a habilidade de escutar, falar, e ajudar-se mutuamente. 

Características da aprendizagem cooperativa 


A aprendizagem cooperativa é interativa. Como membro de um grupo o aluno deve:

a) Compartilhar um objetivo comum;

O ideal é que os próprios alunos escolham ou participem da escolha do tema do trabalho a ser desenvolvido em sala de aula, em casa ou em qualquer outro lugar.  Se eles participarem da escolha do tema, é certo que também terão em mente as razões que os levarão à conclusão do trabalho. Os objetivos têm de ser partilhado com todos. 

b) Compartilhar sua compreensão acerca de determinado problema;

Às vezes, de onde menos se espera é que vêm as melhores idéias, pensamentos e soluções. Há alunos que são quietos, sossegados por natureza. Quase não se ouve a voz deles, quase não se percebe sua presença na sala de aula, mas... de repente... mostram-se inteligentes, geniais, especiais. Trata-se do tão falado insight. Aquela idéia maravilhosa, compreensão clara e repentina da natureza íntima de determinado assunto, que nos vem sem que sequer percebamos. Todas as idéias, insights e soluções, devem ser compartilhados, independente de quem os tenha.  

c) Responder aos questionamentos e aceitar os insights e soluções dos outros;

Nem sempre estamos preparados para aceitar as opiniões e contribuições dos outros. Imaginamos que somente nós temos boas idéias, e pensamentos dignos da consideração do grupo. Isto é, o que o outro pensa ou sabe a respeito do tema que está sendo tratado, na nossa consideração, é insipiente, incompleto ou até mesmo irrelevante. 

Este tipo de comportamento é prejudicial ao relacionamento do grupo e ao resultado final do trabalho, embora seja comum em nossas classes.

d) Permitir aos outros falarem e contribuírem, e considerar suas contribuições;

Tanto o professor quanto o aluno, jamais poderão desprezar ou desconsiderar a cooperação de qualquer pessoa que seja. Pois, todos possuem saberes, informações e experiências para compartilhar.

e) Ser responsável pelos outros, e os outros serem responsáveis por ele;

No trabalho de grupo, ao mesmo tempo em que cada um é responsável por si e por aquilo que faz, também o é pelos outros e pelo que os outros fazem. A responsabilidade do resultado do trabalho é de todos.

f) Ser dependente dos outros, e os outros serem dependentes dele. 

No trabalho de grupo, todos dependem de todos. Não há espaço para individualismo ou estrelismo. O trabalho de grupo é como uma edificação. Todos constroem sobre o que outros já construíram. 
 
O aluno aprende por meio da interação em sala de aula

Na interação entre professores e alunos, supõe-se que os mestres ajudem inicialmente os estudantes na tarefa de aprender, visto que esse auxílio logo lhes possibilitará pensar com autonomia. Para aprender, o aluno precisa ter alguém ao seu lado que o acompanhe nos diferentes momentos de sua aprendizagem, esclareça suas dúvidas, ajudando-o a alcançar um nível mais elevado de conhecimento. 

Por meio da interação estabelecida entre o professor e o aluno, constrói-se novos conhecimentos, habilidades, competências e significações.

Cabe ao professor conhecer seus alunos profundamente, a fim de familiarizar-se com os modos por meio dos quais eles raciocinam. Conhecendo bem o pensamento dos alunos, o mestre estará em condições de organizar a situação de aprendizagem e, sobretudo, interagir com eles, ajudando-os a elaborar hipóteses a respeito do conteúdo em pauta, mediante constante questionamento. Desta forma, os estudantes poderão, aos poucos e com os próprios esforços, formularem conceitos e noções da matéria de estudo.

Os comportamentos do professor e dos alunos estão, portanto, dispostos em uma rede de interações que envolvem comunicação e complementação de papéis, onde há expectativas recíprocas. Nessas interações é importante que o professor se coloque no lugar dos alunos para compreendê-los (empatia), ao mesmo tempo em que os alunos podem conhecer as opiniões, os propósitos e as regras que seu mestre estabelece para o grupo.

Na interação há constantes trocas de influências. O professor, a cada momento, procura entender as motivações e dificuldades dos aprendizes, suas maneiras de sentir e reagir diante de certas situações, fazendo com que as interações em sala de aula continuem de modo produtivo, superando os obstáculos que surgem no processo de construção partilhada de conhecimentos. Assim, comportamentos como perguntar, expor, incentivar, escutar, coordenar, debater, explicar, ilustrar e outros podem ser expressos pelos alunos e pelo professor numa rede de participações onde as pessoas consideram-se reciprocamente, como interlocutores que constroem o conhecimento pelo diálogo.

Marcos Tuler é pastor, pedagogo, escritor e reitor da Faculdade Evangélica de Tecnologia, Ciências e Biotecnologia - FAECAD.
Fonte: http://www.cpad.com.br/escoladominical/posts.php?s=51&i=432

Homilética para professores da Escola Dominical

A atividade docente na EBD tem sido marcada por uma exigência cada vez maior por parte dos alunos quanto a qualidade não só do conteúdo da aula, mas também quanto a maneira com que esta aula é desenvolvida e aplicada. A homilética vem exatamente prover meios para que tais exigências sejam atendidas.
Homilética é a ciência, arte e técnica de pregar e ensinar mensagens religiosas, sacras ou cristãs. Seu objetivo principal, desde seus primórdios na Mesopotâmia cerca de 3000 a C, quanto ao seu uso na igreja a partir do século 
IV d C, foi o de orientar pregadores e mestres na dissertação de seus discursos e ensinos, através de princípios, fazendo simultaneamente que despertassem e tivessem uma idéia dos erros e falhas que cometiam.

Dez processos para preparação de uma aula da EB

“E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes”. Tiago 1.22b
Lecionar no ensino bíblico é um verdadeiro desafio para qualquer professor que deseja ver em seus alunos transformações significante, geradas pelo poder da palavra de Deus, entretanto para que isso ocorra e propicie resultados espirituais, o professor deve preparar bem a sua aula, do começo ao fim.
Analisaremos 10 itens relevantes para que o professor possa se basear durante á preparação de sua aula, tais como:
1. Preparo espiritual:  É de sua importância o professor separar um tempo no decorrer da semana para oração e consagração, no intuído de Deus lhe conduzir com sabedoria e discernimento bíblico durante o preparo da aula.
2. Interseção: É fundamental o professor interceder pelo pastor, o Gestor da EB, e principalmente pelos seus alunos e seus familiares, para que todo impedimentos e ciladas satânicas sejam aniquilados pelo poder de Deus.
3. Leia o material: O professor deve ler toda revista todos os dias, em sintonia com as passagens bíblicas, em prol de obter uma dimensão da temática da aula, e possíveis formas para ministra – lá.
4. Material de apoio: Durante o processo de elaboração da aula, o professor se depara com muitos termos bíblicos e passagens geográficas desconhecidas, por isso é de grande valia o professor consultar um bom dicionário bíblico e secular, mapas geográficos e bíblias com outras traduções, para sanar possíveis objeções.
5. Objetivos: O professor após estudar a matéria deve determinar quais os objetivos e resultados que pretende transmitir e alcançar na vida do aluno, e a partir dessa meta, conduzir toda sua aula para o atingimento desse propósito.
6. Recursos: O professor deve separar todo recurso didático e pedagógico que pretende utilizar em aula como: jornais, mapas, dicionários, dinâmicas, flip chart, projetor de imagem, vídeo, livros entre outros.
7. Durabilidade: O professor deve separar no mínimo 2 horas por dia dedicadas exclusivamente ao estudo sistemático da palavra, para consagração e escolha dos recursos didáticos e pedagógicos que serão utilizados em sua aula.
8. Aplicabilidade: o professor deve escolher o método de aula que mais se encaixe no contexto da lição, e, por conseguinte, determinar o momento adequado que os recursos didático-pedagógico serão aplicados na aula.
9. Revisão: o professor deve revisar toda sua lição, verificando possíveis informações não vista, adequando métodos ou alterando recursos.
10. Direcionamento: a sintonia com Deus deve ser meta constante do professor deve, ele deve depender exclusivamente da sabedoria e discernimento de Deus, para que por intermédio da sua grandeza conduzir a sua aula com eficácia.
Estas são algumas dicas dentre centenas que existe, entretanto destacamos aquelas cuja importância é fundamental, portanto professor se você deseja ter crescimento e maturidade espiritual na vida de seus alunos, deve seguir com disciplinas estas recomendações, e acima de tudo ter a direção de Deus.
Autor: Jhunior Silva

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A ORAÇÃO DE JESUS POR TODOS OS SEUS – João 17.24-26

– Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo.
– Pai justo, o mundo não te conheceu; eu, porém, te conheci, e também estes compreenderam que tu me enviaste.
– Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja.
24 A oração aproxima-se do fim. Nesse momento, porém, ela também atinge seu majestoso clímax. ―Pai, aquilo que me deste. Jesus contempla agora todos os seus até o fim dos tempos. Ele vê a ―grande multidão… (Ap 7.9),o fruto maduro de sua obra. Por ser ela o ―salário de suas dores, a prece de Jesus pode tornar-se um ―quero: ―Quero que onde eu mesmo estou, estejam também comigo aqueles, para que vejam a minha glória. Por trás de toda oração genuína existe uma vontade clara. Quando uma pessoa que ora de fato não ―quer mais algo, sua oração se torna mera falação. Contudo, enquanto nós precisamos condicionar nosso querer, mesmo o mais puro, à vontade de Deus, prontos para o arrependimento, Jesus pode ter tanta certeza da unidade com Deus que pode afirmar: ―Pai, eu quero. O Filho tem a liberdade de dizer ao Pai o que ―quer com a máxima seriedade de seu amor. Ele não tem apenas um interesse temporário e instável pelos seus. Com amor pleno, ele ―quer a comunhão indissolúvel e completa com eles. Nesse querer ele tem a certeza de que essa é também a vontade incondicional do Pai. É para isso que o Pai lhe ―deu essas pessoas, separando-as do mundo. O que inicialmente era exigência a seus discípulos: ―Onde eu estou, ali estará também o meu servo (Jo 12.26), torna-se agora promessa de vida eterna: ―que, onde eu mesmo estou, estejam comigo também aqueles. É nessa situação que ―vêem a sua glória. Até o aperfeiçoamento na eternidade, o ser humano como criatura persiste na situação de não conseguir encontrar a vida e a alegria em si mesmo. O ser humano precisa ter algo para ―ver. Contudo, como tudo isso continua sendo transitório e precário! Estaremos eternamente realizados e repletos de alegria indizível (1Pe 1.8), quando virmos a glória de Jesus de forma desvelada, a glória que procede do amor eterno de Deus.
Isso não é algo completamente novo para os discípulos de Jesus! Já na sua vida atual vale o que diz Jo 1.14: ―Vimos sua glória. Porém, o que até agora não passava de um começo, torna-se cumprimento pleno. Nessa afirmação a glória de Jesus não é apenas um resplendor indefinido e brilhante. Jesus sentado à direita de Deus sobre o trono do mundo, Jesus retornando para arrebatar e aperfeiçoar sua igreja (1Ts 4.13-17), Jesus derrubando o poder mundial anticristão com o hálito de sua boca (2Ts 2.8; Ap 19.11-16), Jesus governando sacerdotalmente com os seus (Ap 20.4-6), Jesus realizando o juízo sobre o mundo (Ap 20.11-15), Jesus entregando ao Pai uma criação redimida após completar sua obra (1Co 15.28): tudo isso deve estar diante de nós quando Jesus diz: ―minha glória.
Contudo, tampouco o Filho possui essa glória em si mesmo como propriedade sua, e nem quer possuí-la dessa maneira. Somente a tem como uma glória ―que me conferiste. A razão, porém, para essa concessão por parte do Pai reside no Seu próprio amor: ―porque me amaste antes da fundação do mundo. Nesse último diálogo com o Pai o pensamento do Filho chega até aquele ―princípio com o qual o próprio evangelho começa em Jo 1.1. Nesse amor ele também estará abrigado quando o clamor do abandono por Deus em prol dos pecadores brota de seu coração.
25 Mais uma vez acrescenta-se um adjetivo ao singelo nome do Pai: ―Pai justo. Precisamente quando se fala do amor de Deus é preciso testemunhar que esse amor jamais se separa da ―justiça. O ―Pai justo rejeita o pecado de forma incondicional. Foi isso que ―o mundonão reconheceu, porque não quer conhecê-lo. A unidade de justiça e amor (e por isso também de ―amor e ―ira de Deus) permanece incompreensível para nós até que a reconheçamos na cruz de Jesus, para o nosso juízo e a nossa salvação. ―Pai justo, e o mundo não te reconheceu; eu, porém, te reconheci, e também esses reconheceram que tu me enviaste. Jesus ―reconheceu a Deus justamente no tocante à sua santidade, à sua ―justiça, que tornou a entrega do único Filho e sua exaltação na cruz necessária para satisfazer seu amor pelo mundo dos perdidos. Esse ―reconhecer por parte de Jesus não se limitou a uma contemplação teórica, mas o conduziu em todo o caminho da encarnação até a morte na cruz. Conseqüentemente, os discípulos por sua vez ―reconheceram o envio de Jesus justamente na cruz. É óbvio que com relação à palavra de Jesus em Jo 16.31s temos de afirmar: Jesus antecipa na oração o ―reconhecimento nos discípulos depois da cruz e ressurreição. Desde então, porém, isso não era uma mera teoria teológica para eles, mas transformou-os nas testemunhas que empenharam sua alma em prol de um mundo perdido.
26 Os discípulos não produzem esse ―reconhecer de si mesmos. Ele brota do ―fazer conhecer da parte de Jesus: ―E eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer. Como deve acontecer um ―reconhecimento genuíno, é novamente o ―nome de Deus que está sendo dado a conhecer (cf. o comentário ao v. 6). Os discípulos não apenas sabem ―que existe um Deus, mas têm o privilégio de saber como Deus se chama, ou seja, quem Deus é. Deus lhes foi ―apresentado e ―tornado conhecido. Tratam a Deus corretamente por Seu nome e por isso não falam com o vazio. A revelação que Jesus lhes trouxe não é mística e sentimental, mas uma palavra explícita. Ao acrescentar: ―e ainda o farei conhecer, Jesus pensa no fato de que, apesar de sua nitidez, o reconhecimento de Deus nunca é mera posse, pois o Deus vivo não é um objeto do mundo, do qual eu disponho tão logo o reconheça. Preciso que Jesus me apresente o nome de Deus constantemente, porque esse nome está ameaçado continuamente ameaçado de submergir no barulho do mundo e de ser obscurecido pela escuridão de meu próprio coração. Simultaneamente, o nome de Deus está carregado de uma riqueza tão infinita e de uma profundeza tão impossível de encerrar que o ―fazer conhecer é interminável. Cabe-nos lembrar também que esse ―fazer conhecer o nome de Deus prossegue no serviço apostólico dos discípulos e por isso Jesus o considera como sua própria obra futura nesse último diálogo com o Pai. Quando pessoas aceitam a fé por meio da palavra dos discípulos (v. 20), então o próprio Jesus tornou o nome do Pai conhecido nessa palavra.
A guinada, inicialmente surpreendente, dessa última palavra de oração de Jesus demonstra em seu término que se trata muito pouco de um reconhecimento teórico que posso obter teologicamente em livros. Jesus tornou conhecido o nome de Deus e continuará a divulgá-lo de modo mais amplo e profundo, ―a fim de que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja. Para o israelita, ―reconhecer e ―amar era coisas estreitamente ligadas. Empregava o termo ―conhecer para o amor conjugal (Gn 4.1; 4.17). Quando se ―reconhece alguém, acontecem ligações substanciais. Quando por meio de Jesus os discípulos reconhecem o ―nome do Pai, seu verdadeiro ser, então o amor com que Deus ama seu Filho também flui para o coração deles. Do mesmo modo, Jesus não permanece diante deles como ―Mestre, mas os ensina de tal modo que ele próprio entra neles e vive dentro deles. No entanto, isso não acontece por meio de uma fusão mística, mas pelo Espírito Santo. Jesus continua sendo uma pessoa e o Senhor. Os discípulos continuam sendo pessoas independentes, e, apesar disso, Cristo vive neles e determina todo o seu pensar, falar e agir.

A ORAÇÃO DE JESUS POR SEUS DISCÍPULOS FUTUROS – João 17.20-23

– Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra,
– a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles [um] em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste.
22 – Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos:
– Eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim.
20 Jesus não podia orar em favor do ―mundo como tal. Apesar disso, sua oração não se restringe ao pequeno grupo de seus discípulos, porque ―discípulos são ao mesmo tempo ―apóstolos, enviados para dentro do mundo. E, apesar de toda a rejeição e ódio, esse envio não será em vão. Os discípulos criarão fé por intermédio de sua proclamação! É esse grande acontecimento, que começará em Jerusalém e depois passará pela Judéia e Samaria até os confins da terra (At 1.8), que Jesus vê à sua frente na oração. Por isso ele prossegue: ―Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra. Então será encontrado o que Jesus procurou em Israel durante sua estada na terra, mas achou apenas em poucos: a fé que se entrega em confiança e obediência. Sobre essa fé vale o que Jesus disse em Jo 12.44: ―Quem crê em mim crê, não em mim, mas naquele que me enviou. Essa ―fé em Jesus é verdadeira ―fé em Deus. A ―palavra dos discípulos será tão poderosa que criará esse tipo de fé.
21 As pessoas que vêm à fé por intermédio da palavra dos enviados, porém, não são pessoas isoladas que permanecem solitárias. Imediatamente elas se tornam ―igreja. Isso é tão básico que nem sequer precisa ser mencionado ou estabelecido como alvo dos crentes. Contudo, Jesus conhece nossa dificuldade para permanecermos num relacionamento verdadeiro uns com os outros, e como toda comunhão humana está constantemente ameaçada, inclusive a comunhão dos fiéis na ―igreja. Por isso sua intercessão pelo grande número de futuros discípulos dirige-se justamente à unidade dos seus. ―A fim de que sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti. Jesus não considera a unidade organizacional, que pode ser mantida com instrumentos de poder. Mas tampouco se trata apenas de uma unidade de idéias afins ou uma coligação com base em sentimentos convergentes. Não, a unidade que Jesus pede para a igreja tem como paradigma e origem a unidade do Pai e do Filho no Espírito Santo. Essa unidade nos é continuamente demonstrada no agir e falar de Jesus. Ela é caracterizada pela liberdade e integralidade, mediante uma preservação nítida e intencional das diferenças. Jesus pode afirmar: ―Eu e o Pai somos um (Jo 10.30). Ainda assim o Filho continua sendo integralmente aquele que espera, roga e obedece, ao passo que o Pai é totalmente aquele que envia, ordena, atende e concede. Porém justamente nessa distinção vive o amor que une o Pai e o Filho. É assim que Jesus deseja a unidade de sua igreja. Ele vê diante de si a grande multidão dos que crêem, em plena multiformidade. Por isso ele diz que ―todos devem ser um. Esses ―todos podem e devem permanecer o que são, até mesmo nas suas diferentes espécies, maturidades, percepções. Porém é exatamente nessa diversidade que o amor atua, suprindo as carências de uns com os dons e as forças dos demais, gerando assim aquele ―edificar-se uns aos outros, ―consolar-se uns aos outros, ―exortar-se uns aos outros (Cl 3.16; 1Ts 4.18; 5.11) pelos quais ―vive a igreja.
Jesus tem um interesse tão intenso nessa unidade que roga mais uma vez por ela: ―A fim de que também eles sejam um em nós. O texto grego de Nestle não traz aqui a palavra ―um. Porém ela é apresentada pela Koiné, pelo Sinaiticus e outros manuscritos. Ele se torna imprescindível na seqüência da frase sobretudo após o ―também eles. Se o texto tivesse a intenção de afirmar que os discípulos ―estariam no Pai e no Filho por intermédio de sua unidade uns com os outros, a frase teria de ser simplesmente: ―a fim de que estejam em nós. Acontece, porém, que Jesus roga que ―também seus discípulos tenham a mesma unidade que liga o próprio Filho com o Pai. Ademais, Jesus acrescenta uma palavra breve, porém decisiva: a palavra ―em nós. Os discípulos jamais possuem essa unidade em si mesmos, em sua própria força de comunhão ou em seus laços de afeto pessoais. Somente ―em nós, como vides na videira, eles também possuirão a unidade uns com os outros. Desse modo, porém, eles também a possuem de fato.
Essa unidade não é importante apenas para os discípulos em si, mas possui um significado crucial para seu serviço. Ela se torna testemunho eficaz: ―para que o mundo creia que tu me enviaste. Quanta responsabilidade repousa, portanto, sobre a igreja de Jesus! O mundo anseia consciente e inconscientemente por unidade genuína, por comunhão real. Quando ele constata nos discípulos de Jesus que a unidade e a comunhão livre e plena estão sendo vividas com amor abnegado, a fé de que o Criador desse tipo de irmandade de fato é enviado por Deus pode irromper livremente no mundo. Inversamente, porém, toda a desunião dos discípulos dificulta a fé em Jesus. O envio de Jesus parece ser refutado quando a mesma desunião e o mesmo desamor que o mundo conhece de sobra predominam em Sua igreja.
Para que o mundo creia…, será que isso não contradiz o que foi dito em Jo 14.17,22; 15.18s; 17.9 a respeito da perdição incorrigível do mundo? Afinal, não é justamente nisso que o ―mundo jamais poderá ―crer? No entanto, a palavra ―o mundo não possui sentido estatístico, da mesma forma como a palavra ―todos na promessa de Jesus de que atrairia a ―todos para junto de si após a sua exaltação(cf. Jo 12.32). O que Jesus afirmou acerca do ―mundo permanece válido. Contudo, pessoas que são ―mundo chegam a crer em Jesus e desse modo pertencem aos que Jesus ―escolheu para fora do mundo. E isso realmente acontece ―em todo o mundo, de forma que a partir daí pode-se dizer, de forma sucinta, ―para que o mundo creia…
22 Para Jesus, a unidade dos seus é algo tão premente que ele não consegue desprender sua oração dela. Naturalmente não nos será fácil acompanhar agora de fato a Sua oração. Nesse momento, essa oração está unindo o que nos parece ser extremamente divergente. ―Eu mesmo lhes tenho transmitido a glória que me tens dado. A ―glória não é uma palavra do futuro distante? Não é justamente por isso que o Filho a pede como dádiva da perfeição vindoura dos seus, para que ―vejam a sua glória (v. 24)? E agora Jesus diz isso no pretérito perfeito: ele já concedeu essa glória aos discípulos. Porventura o futuro já é presente, para não obstante imediatamente continuar sendo futuro? É exatamente isto! E precisamente o Filho de Deus em oração é capaz de vê-lo desse modo. É verdade, ele lhes proferiu a palavra do Pai, ele os deixou ver o Pai nele mesmo. Ele os atraiu consigo para dentro do amor que liga Pai e Filho, Filho e Pai. Tudo isso é sua ―glória. De fato não a guardou para si, porém a ―transmitiu aos discípulos, ainda que neste momento nem sequer captem essa dádiva, e que a espelharão somente no decorrer de sua vida de discípulos com o rosto descoberto.
23 É precisamente essa glória concedida aos discípulos que gera a sua unidade: ―para que sejam um, como nós o somos: Eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade. A unidade não é um alvo ideal que os discípulos precisam alcançar com esforços próprios. Não lhes cabe primeiro ―criar a unidade. Pelo fato de que o Único está ―neles como seu Senhor e Redentor, a união nele já lhes foi presenteada. E pelo fato de que, por sua vez, o Pai está ―em Jesus, concretiza-se aquela ―unidade perfeita que une Deus e seres humanos em Jesus e viabiliza o alvo de toda a história: ―que Deus seja tudo em todos (1Co 15.28). Essa unidade com Deus, essa vida a partir de Deus e para Deus é ―a glória que o Pai concedeu ao Filho e que agora Jesus tornou a ―conceder a seus discípulos. Ela foi ―dada, está aí: a qualquer momento pode-se viver a partir dessa unidade perfeita. E ao mesmo tempo não deixa de ser o alvo da intercessão de Jesus, que se empenha pela unidade dos seus.
Também nesse instante o olhar do ―Redentor do mundo passa da condição dos próprios discípulos para o alvo de seu envio: ―para que o mundo reconheça que tu me enviaste. Contudo, essa unidade dos discípulos, que não é meramente unidade entre os humanos, mas união em Deus, não demonstra apenas o envio autorizado de Jesus, mas igualmente o amor do Pai aos discípulos. Jesus suplica pela unidade de seus discípulos também ―para que o mundo reconheça que os amaste (os discípulos), como também amaste a mim. Unicamente pessoas amadas por Deus são libertas, em razão dessa condição, do medo por si mesmas, e, conseqüentemente, são capazes de também amarem aos outros. Nas chamas do amor de Deus incendeia-se o verdadeiro amor entre os discípulos, o qual os congrega na unidade. E vice-versa: esse amor entre os discípulos torna o amor de Deus perceptível até mesmo aos olhos do mundo.

A INTERCESSÃO DE JESUS POR SEUS DISCÍPULOS – João 17.6-19

6 – Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra.
7 – Agora, eles reconhecem que todas as coisas que me tens dado provêm de ti;
– porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me enviaste.
9 – É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus;
– ora, todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e, neles, eu sou glorificado.
– Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo, ao passo que eu vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, que me deste, para que eles sejam um, assim como nós.
– Quando eu estava com eles, guardava-os no teu nome, que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura.
– Mas, agora, vou para junto de ti e isto falo no mundo para que eles tenham o meu gozo completo em si mesmos.
14 – Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou.
– Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal.
16 – Eles não são do mundo, como também eu não sou.
– Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.
– Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.
– E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade.
Para si próprio Jesus pediu ao Pai que o glorificasse. Agora sua oração se volta para os discípulos e se torna uma intercessão por eles.
6/8 O que caracteriza seus discípulos? Por que Jesus consegue orar com convicção por eles? Por natureza são pessoas como todas as demais e fazem parte do ―mundo. Mas agora aconteceu algo com eles que os transforma completamente. São ―pessoas que me deste para fora do mundo. O Filho não é capaz de fazer nada por si próprio, nem mesmo transformar pessoas em discípulos. Somente pode acolher aqueles que o próprio Deus lhe dá. Sua ―escolha dos discípulos (Jo 15.16) está alicerçada sobre uma escolha de Deus. Por isso Jesus enfatiza: ―Pertencem a ti, e tu mos confiaste. No v. 9 ouviremos mais a esse respeito. Prevalece o que Jesus já afirmou com muita seriedade em Jo 6.37,44,65: somente os que o Pai lhe dá e por isso atrai para junto dele, vêm até ele. Porém agora Jesus pôde agir nessas pessoas que o Pai lhe encaminhou. ―Manifestei teu nome às pessoas. Para nós é penoso compreender corretamente todo o conteúdo, e também toda a alegria dessa declaração de Jesus. Será que há tanta importância no ―nome de Deus? Porventura um ―nome não é uma questão bastante exterior? Pode ser assim. Porém, também nós conhecemos essa situação, de que a um ―nome se associa todo o ser daquele que é portador desse nome. Quando dizemos ―Abraão ou ―Moisés ou ―Paulo, surge inicialmente toda uma realidade de vida. Conseqüentemente, também poderíamos traduzir a palavra da oração de Jesus por ―Eu lhes revelei a tua essência. O ―nome formula a essência. Em vista disso, o ―nome possibilita que tratemos ao outro como aquele que ele é. Conheço o outro e estou ligado a ele quando sei o seu ―nome.
Tudo isso vale de modo especial para Deus e para o nosso conhecimento de seu nome. O ―nome de Deus não está sob o controle de uma pessoa. A essência e a verdade de Deus estão ocultas para nós. Por isso, para Moisés não foi suficiente que Deus se apresentasse na sarça incandescente como ―o Deus dos pais, dando-lhe a incumbência de libertar o povo. Pelo seu bem e pelo bem do povo ele precisava saber o ―nome de Deus, a fim de poder confiar realmente Nele e invocá-lo corretamente. Naquele tempo Israel foi presenteado com o nome de ―Javé (―Jeová; Êx 3.13-15). Agora, porém, esse nome, que não tem mais importância no NT, não está mais em questão. Agora esse ―nome manifesto é o nome de Deus como Pai. Ele se tornou acessível aos discípulos na palavra que Jesus podia transmitir-lhes como a palavra do próprio Deus. A revelação do ―nome caracteriza a revelação como revelação da palavra. O Pai se manifesta no Filho não em experiências místicas inexprimíveis, mas na ―palavra inequívoca.
Em razão disso Jesus pode constata imediatamente o fruto de sua revelação: ―E eles têm guardado a tua palavra. Isto os capacitou a reconhecer por eles mesmos o aspecto crucial da revelação de Deus por meio de Jesus. ―Agora eles reconheceram que todas as coisas que me tens dado provêm de ti. Para Jesus, essa afirmação é tão grandiosa no diálogo com o Pai que ele a repete outra vez, com maior clareza. ―Porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e chegaram a crer que tu me enviaste. Justamente porque Deus ―deu as palavras a Jesus elas não são meras ―palavras, e sim ―rhemata, palavras eficazes e plenas de realidade. As pessoas que as ―aceitaram, chegaram a ―conhecer e a ―crer por meio delas. Captaram o envio de Jesus, motivo pelo qual conseguiram ver o próprio Pai naquele que ―saiu do Pai, e desse modo conhecer e dizer o seu ―nome. Não apenas ouviram uma pessoa que, como muitos antes e depois dele, tinha seus pensamentos sobre Deus e ensinava esses seus pensamentos. Não, ―agora eles reconheceram que todas as coisas que me tens dado provêm de ti. Jesus é o Revelador, que traz a realidade própria a Deus até as pessoas.
Entretanto, ao ouvirmos essas palavras de oração de Jesus cabe-nos superar ainda outra dificuldade. Com alegria, Jesus diz ao Pai o que realizou pela manifestação do Seu nome. Porém, será de fato assim? Será que seus discípulos realmente ―guardaram a sua palavra, a ―receberam e ―reconheceram e ―chegaram a crer? Não vemos até o final dos discursos de despedida (Jo 16.29-31) que Jesus não consegue considerar sua suposta fé como fé verdadeira? E a hora seguinte não há de mostrar que os discípulos de fato ainda não ―reconheceram e creram? É preciso que retornemos ao que explicitamos em relação a Jo 6.67-69. A atuação reveladora de Jesus não foi em vão. Crer e reconhecer na Páscoa e em Pentecostes somente foi possível porque já estavam fundamentados e haviam começado a germinar em todo o convívio de Jesus com os apóstolos. Diante de seu Pai, Jesus agora vê essa semente já desenvolvida, e olha para o futuro, como o fará expressamente no v. 20. Diante do Pai ele pode falar desse futuro como um acontecimento do passado. E aqui todos nós, que recebemos essas suas palavras por meio dos discípulos e igualmente chegamos a esse ―conhecimento verdadeiro e a essa ―fé bem definida, já estamos incluídos.
9/10 A oração de Jesus vale para pessoas nessa situação. Não pode valer para o mundo enquanto ―mundo. Jesus não pode orar por um mundo formado por uma multiformidade indefinida de pessoas. O Filho está vinculado ao Pai. ―É por eles que eu rogo. Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus. Não foi ele que, com a magnitude de seu intelecto e sua arrebatadora força de persuasão, conquistou as pessoas pelas quais intercede nessa oração. O fato de que pessoas chegaram a Jesus e até esse momento permaneceram junto dele reside exclusivamente na dádiva de Deus. Esse ―dar acontece com liberdade divina. Deus dispõe das pessoas, elas ―são dele porque Ele é seu Criador. Mas precisamente nesse momento, numa oração dessas, Jesus precisa articular mais uma vez toda a unidade que o liga ao Pai de maneira bem real. ―Ora, todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas. Aqui, ―vontade própria não é possível nem necessária. O Pai concede ao Filho com amor pleno. Mas o Filho não segura nada para si, porém alegremente coloca à disposição do Pai o que foi adquirido por meio de sua atuação. ―Todas as minhas coisas são tuas: essa não é o discurso de uma submissão forçada, e sim, do mais livre amor. ―As tuas coisas são minhas: essa não é uma afirmação reivindicatória. Quem fala é a gratidão que aceita a dádiva do amor que presenteia. Por isso, somente no relacionamento entre ―Pai e ―Filho reconhecemos o que é o amor verdadeiro e integral.
Precisamente desse modo as pessoas que o Pai concedeu a Jesus servem à glorificação deste. ―E sou glorificado neles. Essa glorificação de Jesus não se alicerça sobre a competência e grandiosidade dos discípulos. Não há nada para admirar nos discípulos como tais. Contudo, Jesus comprou ao preço da sua vida justamente pessoas tão imprestáveis, pervertidas e perdidas, introduzindo-as numa nova vida de fé e oração, amor e esperança. Ele é ―glorificado neles por meio desse seu poder misericordioso de Salvador.
11 Por que Jesus precisa interceder por eles? ―Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo, ao passo que eu vou para junto de ti. Jesus agora pode sair de todas as aflições, lutas e tribulações do mundo e ir para a glória junto do Pai. Os discípulos, porém, ainda não podem acompanhá-lo. Eles ―estão no mundo. Jesus sabe o que isso significa. O mundo é como um largo e forte rio cuja correnteza arrasta tudo incessantemente, cada vez mais para longe de Deus. Procedem também do mundo os intensos golpes com que o senhor do mundo tenta arrancar os fiéis de Deus. ―Estar no mundo significa ter de viver constantemente no seu ódio . Será que os discípulos não sucumbirão? Não fraquejarão (1Ts 3.3), deixando-se arrastar imperceptivelmente para longe de Deus? Nessa situação irrompe a prece de Jesus: ―Pai santo, guarda-o [ou: os] em teu nome, que me deste. Em vista de todo o poder do mundo e de seu príncipe, Jesus se conscientiza da santa magnitude e do poder de Deus. O Pai é o ―Santo que certamente é capaz de proteger os discípulos por meio de seu poder e sua glória divinos e superiores ao mundo. Como ―Pai santo, Ele também o fará por sua fidelidade, uma vez que deu essas pessoas ao Filho. Jesus roga que o Pai as ―guarde em seu nome. Não se trata de proteger contra aflição e sofrimentos. Tampouco de preservar seu bem-estar terreno ou sua vida passageira. Contudo, em todas as situações devem permanecer naquilo que o ―nome de Deus lhes revelou a respeito da essência, da verdade, do poder e da graça de Deus. Jesus suplica que seus discípulos preservem o ―nome de Deus também no fracasso, em derrotas, medo e tribulação, dessa maneira permanecendo apegados a Deus, porque Deus os segura.
Se a forma, inicialmente estranha para nós, estiver correta, então Jesus acrescentou ―que me deste a ―nome de Deus (no qual os discípulos devem ser guardados). Nesse caso, o presente texto também enfatiza que esse ―nome de Deus existe para nós unicamente porque Jesus no-lo manifestou. Ao fazê-lo, Jesus apenas passou adiante o que o Pai lhe dera. O Filho é o primeiro a quem Deus revelou sua natureza mais íntima e seu nome de Pai. Não se trata da expressão ―Pai como tal. Ela já fora usada no AT. Contudo, é significativo que ele use essa expressão apenas esparsa e predominantemente em palavras que apontam para o futuro. Aquilo que a verdadeira ―natureza de Deus como Pai encerra ficou manifesto no ―Filho. Por isso, tampouco podemos aprender o nome de Deus como Pai a partir das palavras de Jesus de forma apenas teórica, mas Jesus tem de no-lo ―revelar com todo o seu ser (v. 6), e o próprio Pai precisa nos ―guardar nesse seu nome.
Jesus acrescenta mais um aspecto à prece: ―Para que sejam um, assim como nós. Ao orar, Jesus contempla vivamente o que nós esquecemos em grande medida. Não se trata de discípulos isolados, solitários, que precisam ser guardados individualmente. Trata-se da irmandade dos seus, que se encontra sob o seu mandamento do amor (Jo 13.34; 15.12,17). No nome do Pai eles somente serão preservados se a sua unidade for mantida. ―Ser um, como nós vê essa unidade de forma bem íntima e livre, e justamente por isso firme e plena. Os v. 22s apresentarão esse fato mais uma vez.
12 Jesus olha outra vez para a transformação profunda na situação dos seus. ―Quando eu estava com eles, guardava-os no teu nome, o qual (ou: os quais) me deste, e protegi[-os], e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura. De forma alguma os Doze permaneceram naturalmente junto de Jesus durante esses anos. Em Jo 6.60-69 João nos mostrou como essa permanência estava ameaçada pelo ―duro discurso de Jesus e pelo insucesso cada vez mais patente à medida que todas as esperanças terrenas eram desfeitas por parte de Jesus. Jesus teve de ―guardar e ―proteger muito para que os Onze agora ainda estivessem ao seu redor.
Esse ―guardar não é algo que tem êxito por si mesmo. O Deus onipotente respeita a liberdade das pessoas. Isso fica claro no fato de que apesar de tudo um dos Doze se ―perdeu. Jesus não consegue orar pelos seus sem se lembrar desse um. Nem mesmo agora o mistério é solucionado por meio de uma fórmula que permitiria calcular a relação entre a atuação divina e a liberdade humana. Jesus tão somente aponta para dois fatos nesse terrível acontecimento com Judas. Judas era um ―filho da perdição. Da maneira como ―filhos da luz se deixam determinar pela luz (cf. Jo 12.36), assim Judas se deixou conduzir e moldar interiormente pelo destruidor e pela perdição. Foi por causa da liberdade pessoal e simultaneamente da necessidade interior (não exterior!) que o ―filho da perdição finalmente ―se perdeu. Por isso a sentença ―para que se cumprisse a Escritura jamais poderá significar que Judas foi forçado a fazer algo contra a sua vontade, apenas para o cumprimento formal da Escritura, tornando-se o destruidor de Jesus. A Escritura nunca se cumpre dessa forma mecânica! Essa palavra de Jesus não pode ser entendida diferentemente de Jo 13.18. Mesmo o fato mais incompreensível e terrível é abarcado pelo conhecimento e pela regência de Deus, e por isso já fora previsto na Escritura.
13 Existe a possibilidade da queda, que não pode ser evitada automaticamente por nenhum ―guardar. A trajetória dos discípulos pelo mundo é difícil e cheia de provações. Ela não se tornará, então, uma vida de constante medo e preocupação que os discípulos de Jesus precisam viver, até mesmo quando o último refúgio é a fidelidade de Deus? Jesus o vê de maneira diferente. ―Mas, agora, vou para junto de ti e isso falo no mundo para que eles tenham minha alegria perfeita em si mesmos. Novamente Jesus não diz: ―Mas agora tenho de morrer, mas ele vê em seu caminho a ida até o Pai. No entanto, sua despedida não é apressada, despreocupada a respeito dos que são deixados para trás. Não, ―Jesus fala isso no mundo, estando plenamente no mundo e em seu domínio. Os discípulos podem ver no seu exemplo que ―estar no mundo não apaga a alegria de seu Senhor. Assim como ele lhes ―deixou a sua paz (Jo 14.27), assim ele lhes está legando também a ―sua alegria, como algo que podem levar consigo. Considerando que a instrução apostólica leva a alegria muito a sério e a transforma numa característica essencial da filiação divina e da atuação do Espírito Santo, os apóstolos a aprenderam e receberam do próprio Jesus. Não apenas com esforço e apesar das circunstâncias: um clarão de alegria deve cobrir os discípulos. É de forma ―perfeita que eles devem ―ter sua alegria em si mesmos. Jesus não está falando da alegria natural dos discípulos. A ―nossa alegria desfalece rapidamente. Jesus se refere à alegria ―dele, que não se desfaz nem mesmo agora diante de toda a gravidade da trajetória da cruz. Os discípulos ―terão perfeita em si mesmos essa ―alegria dele.
14/15 Mais uma vez Jesus apresenta a situação dos discípulos ao Pai. ―Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo lançou seu ódio sobre eles, porque não são do mundo, como também eu não sou do mundo. Quando a palavra de Deus é concedida e de fato recebida e acolhida, surgem pessoas que já não ―são do mundo, mas pertencem essencialmente a Deus. Nisso são semelhantes ao Filho, que declara a respeito de si: ―como também eu não sou do mundo. A marca inevitável e inextinguível desse fato é o ―ódio que ―o mundo lançou sobre eles. Essa é a realidade dos discípulos, simplesmente porque até esse ponto são discípulos de Jesus. Contudo, agora se torna decisivo que tipo de conseqüências Jesus reconhece na situação dos seus e que pedido ele dirige ao Pai a partir disso. ―Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. O fato de que Jesus precisa dizer exatamente o que não pede revela o quanto essa súplica estava à flor da pele. Será que os discípulos não poderiam ser poupados da aflição, que não é brincadeira, antes traz dentro de si a tentação para renegar a Jesus? Para isso eles teriam de ser tirados do mundo, no qual justamente precisam entrar, para que a mensagem salvadora chegue às pessoas. O Filho, que empenha sua alma pessoalmente em seu envio, de forma alguma pode solicitar ao Pai ―que os (tire) do mundo. Contudo pode e precisa suplicar ao Pai ―que os (guarde) do mal. No texto grego não se pode distinguir se Jesus tem em mente ―o mal, ―o maligno, ou ―o mau, porém Jesus não emprega a palavra que Paulo usa em Rm 12.21 para ―o mal. Em contrapartida, ―ponerós = ―mau é usado por Jesus na sétima prece do Pai Nosso e por Paulo em 2Ts 3.3, com nítida referência ao ―mau, ao diabo. João usa esse termo com plena clareza nessa acepção em 1Jo 2.13. Conseqüentemente, nessa súplica ao Pai Jesus também deve estar vendo ―o mau como ―dominador por trás do ―mundo com seu ―ódio, cujo alvo é que os discípulos neguem a fé sob a pressão da perseguição e do sofrimento. Diante ―do mau, e por isso da queda, o Pai poderá ―guardar os discípulos.
16/17 No entanto, não se trata apenas da ―proteção do mal. A vida dos discípulos também precisa ser desenvolvida em termos positivos. Essa configuração e realização positiva da vida significam ―santificação. O fundamento dela foi lançado na nova existência que separa os discípulos do ―mundo. ―Eles não são do mundo, como também eu não sou. Sobre esse fundamento é possível rogar, e agora Jesus solicita: ―Santifica-os na verdade. Ele não espera de seus discípulos que eles mesmos se santifiquem por não serem do mundo. Rogou ao Pai pela santificação deles, da qual precisam tanto para sua própria vida quanto para seu serviço no mundo. A santificação é obra de Deus, porque ele é o ―Pai santo. A palavra ―santo faz parte daqueles termos básicos, que não conseguimos explicar com outras palavras, mas apenas captar diretamente a partir de si mesmos por nossa experiência pessoal interior. Não poderemos de forma alguma explicar o que é ―santo a uma pessoa que nunca se deparou com o ―Santo. Toda pessoa, porém, que se confrontou com Deus, possui no mínimo uma noção do motivo por quê os serafins, em incansável adoração, chamam Deus de ―três vezes santo (Is 6.3). Quando, pois, os discípulos de Jesus devem ser ―santificados na verdade, visa-se seriamente que eles não apenas sejam ―boas pessoas, mas que se revistam da santidade e do brilho de Deus. É por isso que eles não são capazes de realmente ―santificar-se pessoalmente. Unicamente o Pai santo pode realizar a ―santidade neles. Por isso Jesus pede isso Dele.
A santificação dos discípulos acontece, pois, ―na verdade. Como em todas as ocorrências no presente evangelho, verdade é a realidade essencial divina. Os discípulos devem possuir não apenas um certo brilho e aspecto de ―santidade, mas a santificação deve penetrar genuína e profundamente em sua vida e em seu ser. Quando Jesus acrescenta: ―Tua palavra é a verdade, ele não diz somente que a palavra de Deus não nos engana e que é correta e confiável mesmo na forma da palavra escrita. Jesus diz mais. A palavra, proferida vivamente por Deus, não é apenas ―palavra, mas carrega em si a natureza divina e a energia divina. Por isso o ser humano pode ―viver dessa palavra. E por essa razão a santificação dos discípulos na verdade também acontece por meio da ―palavra. A ―palavra como ―verdade também torna nosso ser e nossa vida ―verdadeiros, essenciais, direcionados para a realidade de Deus e, por isso, santos.
18 Agora os discípulos estão capacitados para serem enviados ao mundo. Um mensageiro que possui apenas ―palavras, sem que sua natureza seja também testemunha, não ajuda em nada. O envio dos discípulos corresponde também ao nosso envio pelo próprio Jesus. O mundo somente poderia obter ajuda através daquele que era Filho de Deus por essência e por isso realmente o pão, a água, a porta, o caminho, a vida e a ressurreição para pessoas famintas, sedentas, inquietas e moribundas. ―Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. O ―como no início da palavra de Jesus deve ser levado muito a sério e tem aqui uma conotação causal. O envio dos discípulos corresponde ao envio de Jesus e tem seu fundamento no mesmo Na prática, dá prosseguimento a ele e leva o amor redentor do Pai no Filho para dentro do mundo.
19 Jesus os capacita para esse envio por meio da santificação que prepara para eles. Filho e Pai agem novamente com espírito unânime. O Filho pediu ao Pai a santificação dos discípulos na verdade. Mas o Filho não é espectador passivo no cumprimento de seu pedido. ―E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade. O ―e no início da frase revela a relação da santificação com o envio. ―E justamente por eles, os quais enviei, por eles, porque eu os enviei, eu me santifico a mim mesmo. Seus discípulos não podem santificar-se pessoalmente. Jesus é capaz de fazê-lo, e ele o faz justamente agora em seu caminho de sofrimento. Ao honrar o Pai de forma tão integral, ao amá-lo tão cabalmente e entregar toda a sua existência e obra da vida inteira a Deus, ele se torna o Filho santo do Pai santo. Perante o mundo, o mundo devoto de Israel, Jesus aparece como blasfemo, banido e maldito. Na verdade, porém, justamente agora na cruz torna-se realidade perfeita o que Pedro reconheceu e declarou na hora decisiva: ―Tu és o Santo de Deus (Jo 6.69). Jesus conta com a circunstância de que, como Crucificado, também envolve os seus nessa ―santificação, ―para que eles também sejam santificados na verdade.
Santificados na verdade, pertencer a Deus ―na verdade e viver para Deus: esse era o objetivo final de Jesus. Sua luta, que lhe rendeu a cruz, dirigia-se contra a ―hipocrisia que destruiu Israel. Um ―culto a Deus que se transformara em ―negócio, uma ―casa de Deus que se tornara ―casa de comércio (Jo 2.14-16), devotos líderes que, não obstante, sãoincapazes de crer porque são ávidos de honra (Jo 5.44), discípulos de Moisés que são denunciados pelo próprio (Jo 4.45), filhos de Abraão que se tornaram filhos do diabo (Jo 8.37-44) – incansavelmente, Jesus desvendava essa terrível deturpação e falsificação por meio de sua palavra e de seu ser. Agora tudo depende de que seus discípulos e emissários não sejam reféns da mesma falsidade, mas que ―sejam santificadas na verdade.

A ORAÇÃO DE JESUS POR SI MESMO – João 17.1-5

A ORAÇÃO DE JESUS POR SI MESMO – João 17.1-5
– Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti,
– assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste.
– E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.
4 – Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer.
– E, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo.
1 Essas coisas falou Jesus. Podemos ver todo o evento concretamente diante de nós. Os discursos de despedida começam com a última ceia que Jesus realiza com seus discípulos (Jo 13). O discurso de Jesus se prolonga ainda no recinto da ceia, até partirem por ordem do próprio Jesus (Jo 14). O trajeto pela cidade e descendo a encosta ao vale do Cedrom não é percorrido em silêncio. Jesus continua falando com seus discípulos. A videira no jardim ao lado do caminho, claramente visível sob o brilho da lua cheia, pode ter sido o motivo para o discurso metafórico de Jesus em Jo 15. Agora já foi dito tudo o que preenche os capítulos de Jo 15 e 16. Jesus chegou diretamente ao Cedrom. Tão logo ele o atravessar e entrar no Jardim das Oliveiras (Jo 18.1s), estará à mercê de seu traidor e de seus inimigos. Por isso Jesus se detém ali, antes do último passo em direção ao sofrimento. Nessa hora ele precisa falar não apenas com pessoas. Sua última palavra não se dirige a elas, e sim ao Pai. Ouvimos o Filho em seu último diálogo com o Pai.
Como todos os autores bíblicos, João mostra uma reverência singela diante do mistério, de modo que não tenta violá-lo com perguntas e análises. Por essa razão, ele permite apenas, por meio de alusões, que observemos o contato de Jesus com Deus, sua vida de oração. Agora, porém, enfim é permitido ouvir: desse modo orava Jesus, assim o Filho conversava com o Pai.
Logo no começo dessa oração deparamo-nos com o mistério. ―Essas coisas falou Jesus e levantou os olhos ao céu e disse: Pai. Acaso Jesus não se empenhou com todas as forças para mostrar aos discípulos que ele está no Pai e o Pai está nele (Jo 14.10)? Será que de fato ainda existe um diálogo real entre Jesus e o ―Pai nele? Acaso Jesus ainda precisa e pode ―levantar os olhos ao céu, como se Deus estivesse lá ―em cima? Ainda que o fato de Deus estar ―no céu e ―no Filho não seja tão compreensível para nós de forma concreta e sem contradições nessas imagens espaciais, reconhecemos que ambos os aspectos são verdadeiros: a plena unidade do Pai e do Filho, e a plena autonomia das duas pessoas, que se expressa quando o Filho ergue o olhar ao Pai e quando há o diálogo genuíno de pedir e ser atendido. Igualmente leva-se a sério a plena encarnação do Filho. O Pai pode ser visto no Filho. Mas, como ser humano sobre a terra, o Filho ergue os olhos ao céu e interpela a Deus.
―Pai, é chegada a hora. Quanto tempo Jesus esperou por essa ―hora (Jo 2.4)! Agora ela chegou. O que é preciso pedir ao Pai agora? Já temos essa resposta em Jo 12.27,28. Não pode ser salvação dessa hora, que ―precisava vir e pela qual o Filho esperava ardentemente. A única opção é que ―a hora alcance o grande alvo. Por essa razão a prece de Jesus é: ―Glorifica teu Filho, para que o Filho te glorifique. Esse alvo, porém, não está somente além da hora, como uma recompensa depois do sofrimento. Se quiséssemos interpretar a prece de Jesus dessa forma teríamos de esquecer tudo o que Jesus afirmou sobre sua ―exaltação na cruz. Não: é precisamente na ―hora em si, na trajetória do sofrimento que está para começar, que a glorificação do Filho, que se torna ao mesmo tempo glorificação do Pai pelo Filho, deve acontecer. Essa glorificação do Filho, no entanto, não acontece por si mesma. Tampouco é obra pessoal de Jesus. Unicamente o Pai pode efetuá-la, razão pela qual precisa ser solicitada pelo Filho, que obviamente tem plena certeza de ser atendido.
2 Jesus pode ter tanta certeza de que essa prece será atendida porque essa glorificação do Filho no sofrimento não é nada mais que a concretização de uma soberania que há muito foi concedida ao Filho: ―Assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne. A expressão ―toda a carne, já utilizada diversas vezes no AT, abrange a totalidade da existência das criaturas, a criação como um todo, porém refere-se de modo bem especial à humanidade como criada e transitória. ―Autoridade sobre toda a carne é precisamente o poder de Deus. Já Moisés e Arão adoraram a Deus como o ―Deus do espírito de toda a carne (Nm 16.22). E o próprio Deus declara ao profeta Jeremias: ―Eu sou Deus de toda a carne (Jr 32.27). O Pai transfere essa autoridade de Deus a Jesus. Nisso Jesus vê o motivo que o faz orar cheio de certeza pela ―glorificação. Também nesse caso o termo grego ―kathos = ―como possui um sentido causal. Essa autoridade, porém, não é simplesmente ―poder em si, mas serve à vontade do amor de e à salvação das pessoas. Jesus a possui ―a fim de que ele conceda a vida eterna a tudo os que lhe deste. O fato de ser ―carne torna passageira a criatura, que na verdade não possui ―vida eterna (Jo 3.6). Contudo, através de Jesus as pessoas devem obter ―vida eterna. Novamente transparece a idéia da eleição, para nós tão difícil, de Jo 6.37. Jesus não fala simplesmente da autoridade sobre toda a carne, para que ele conceda vida eterna a toda a carne. O verdadeiro teor, bastante complicado, ―para que tudo que tu lhe deste, ele lhes conceda vida eterna mostra com mais clareza que se trata apenas de uma ―seleção de pessoas, às quais é concedida a dádiva inaudita. Essa dádiva da vida eterna, no entanto, somente vem aos eleitos pelo fato de que o Filho de Deus se deixa transformar em pecado na cruz (Jo 3.15).
3 Em que consiste essa ―vida eterna? Surpreendemo-nos com a resposta: ―E a vida eterna é esta: Que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. A ―vida eterna consiste em ―conhecer. Essa não é a opinião fundamental típica da ―gnose? Contudo, nos lábios de Jesus essa palavra não tem sentido ―gnóstico, e o ―conhecer não está sobreposto ao mero ―crer como se fosse algo superior. Ela tem uma definição simplesmente ―bíblica, não se contrapondo, já em Jo 6.69, ao crer, mas está firmemente ligada à fé. Precisamos ter em mente a abundância de passagens do AT em que ―reconhecer a Deus é visto como o centro da vida. Acima de tudo, a ―nova aliança profetizada por Jeremias possui glória precisamente pelo fato de que todos hão de ―reconhecer a Deus (Jr 31.34). De forma muito significativa, também nesse caso o ―conhecer não está vinculado a forças superiores da razão, mas ao perdão dos pecados e à redenção da culpa. É desse ―conhecer que Jesus está falando. Ele é ―vida eterna pelo fato de que possui o conteúdo mais sublime e eterno. Aqui ―o único Deus verdadeiro é reconhecido. Do mesmo modo podemos traduzir: ―o único Deus real. Na humanidade houve e há em abundância imagens humanas de Deus e ―deuses falsos, inautênticos. Junto deles não encontramos a ―vida eterna. Somente são capazes de nos seduzir e enganar com mentiras sobre a vida. Ao ―conhecermos o único que é Deus verdadeiro é-nos atribuída vida tão eterna e inexaurível quanto o próprio Deus. Então ―conhecer não é o mero raciocinar idéias corretas sobre Deus. Na Bíblia, ―conhecer significa um apreender essencial mediante uma entrega viva e um relacionamento vivo. O Deus santo e verdadeiro jamais pode ser objeto de nosso conhecimento intelectual, de nossa investigação científica. Já no âmbito humano conhecemos pessoas de um modo completamente diferente: pelo ―encontro com amor, confiança e obediência. Deus, porém, nos concede o encontro com ele naquele, ―a quem enviou, Jesus Cristo. Por isso o ―e na frase da oração de Jesus não denota adição, juntando duas grandezas distintas. Não reconhecemos primeiro a Deus e em segundo lugar a Jesus Cristo, mas em ―Jesus encontramos ―o único Deus verdadeiro. Jesus está apenas sintetizando o que explanou exaustivamente em Jo 14.6-11. Nessa síntese Jesus está vendo o grande acontecimento que resulta de seu sacrifício na cruz tão vivamente diante de si, que fala de si próprio na terceira pessoa. Inúmeras pessoas em todo o mundo encontram em Jesus Cristo o verdadeiro Deus e, por conseqüência, a vida eterna.
4 A distância em que nos encontramos de qualquer ―gnose e de toda a ―mística é revelada de imediato pela frase seguinte. ―Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer. Jesus fala da ―obra que ele ―consumou nessa terra. Ele fala disso como se a pior parcela dessa ―obra, a cruz, já estivesse atrás dele. Tão seguro Jesus está da consumação. Contudo, exclamará ―Está consumado somente quando inclinar a cabeça e morrer (Jo 19.30). Agora ele faz um retrospecto dos anos de atuação e luta. Com vistas aos v. 4,6,8,12,14,22,26, podemos afirmar que a oração de Jesus nesse retrospecto se torna uma sagrada prestação de contas do Filho perante o Pai. Em tudo que preencheu esses anos, ele ―glorificou a Deus. Sua ―obra não era constituída de reflexão meditativa e de compenetração mística, mas de ―ação. A obra lhe foi ―confiada pelo Pai, ―para fazê-la. Não representou um fardo, mas foi para ele uma ―dádiva do Pai. Com quanta satisfação o Filho realizou essa obra, ―glorificando na terra o Pai.
5 Com base nisso, ele também pode pedir ao Pai com plena confiança: ―E, agora, glorifica-me, ó Pai, junto de ti, com a glória que eu tive, antes que houvesse mundo, junto de ti. Nesse momento seu olhar e seu anseio ultrapassam a ―exaltação na cruz, chegando à glória perfeita, que corresponde ao que ele já possuía originalmente. Também agora, em sua trajetória em direção à desonra da cruz, Jesus sustenta com tranqüila convicção que ele ―vem do alto e ―do céu (Jo 3.31; 8.23), da ―glória que ele tinha junto do Pai antes da criação do mundo. Foi dessa glória que ele se esvaziou (Fp 2.5ss) ao se tornar ―carne. Ainda assim, podia ser ―vista por olhos iluminados (Jo 1.14). Contudo, ao sair agora do mundo para o Pai, sua glória lhe é devolvida integralmente. É divinamente ―justo que aconteça assim, e o Espírito Santo convence o mundo dessa ―‘justiça (Jo 16.10). No entanto, a nova glorificação, que Jesus espera e pede, não é simplesmente o restabelecimento de uma situação anterior, pois agora é glorificado aquele que aceitou a condição humana de modo imperdível. Nessa humanidade ele experimentou o que o Filho eterno de Deus, por sua essência, jamais poderia experimentar e alcançar: tortura, desonra, maldição e morte. Também como novamente exaltado ele continua sendo aquele que traz as chagas, sendo realmente reconhecível através delas (Jo 20.24-28). Por essa razão a ―glória de Filho que ele recebe agora é completamente outra, repleta de toda a imensa obra da redenção. Agora vale o júbilo de adoração de Ap 5.12: ―Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor. Assim o Filho ainda não podia ser enaltecido em sua glória original. Essa prece de Jesus enfatiza duas vezes que a glória original, assim como a que agora é esperada, não é nada que o Filho possa ter em e para si mesmo. Unicamente o Pai pode glorificar o Filho, e o Filho somente pode pedir por essa glória e recebê-la do Pai. Uma construção complicada da frase, que mantivemos também na tradução, ressalta especialmente o duplo ―junto de ti: somente estando junto do Pai o Filho possui glória. Na vida do discípulo, isso corresponde à circunstância de que também ele jamais poderá encontrar vida eterna e glória em sua própria existência, nem mesmo na consumação, mas unicamente em ―estar junto de Cristo (v. 22-24).

Comentário Esperança (Werner de Boor) 

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Espírito Santo: O Mestre da Oração


por
Hermisten Maia Pereira da Costa


Introdução
Agostinho (354-430), comentando o Salmo 102.2 – quando o salmista diz: “... inclina-me os teus ouvidos; no dia em que eu clamar; dá-te pressa em acudir-me” –, faz uma paráfrase: “Escuta-me prontamente, pois peço aquilo que queres dar. Não peço como um homem terreno bens terrenos, mas já redimido do primeiro cativeiro, desejo o reino dos céus.”[1]
1. A Intercessão do Espírito
Paulo, discorrendo sobre a fraqueza humana, a exemplifica na vida cristã no fato de nem ao menos sabermos orar como convém (Rm 8.26-27). Por isso, o Espírito que em nós habita nos auxilia em nossas orações, fazendo-nos pedir o que convém, capacitando-nos a rogar de acordo com a vontade de Deus. A oração eficaz é aquela que tem o Espírito como seu autor. Sem o auxílio do Espírito jamais oraríamos com discernimento. Calvino (1509-1564), analisando o fato de que pedimos tantas coisas erradas a Deus e que, se Ele nos concedesse o que solicitamos, traria muitos males sobre nós, enfatiza: “Não podemos nem sequer abrir a boca diante de Deus sem grande perigo para nós, a não ser que o Espírito Santo nos guie à forma devida de orar.”[2] A oração genuína é sempre precedida do senso de necessidade e de uma fé autêntica nas promessas de Deus.[3]
Graças a Deus porque todos nós, em Cristo, temos o Espírito de oração (Zc 12.10), porque sem Ele jamais poderíamos orar de modo aceitável ao Pai.
Muitas vezes, estamos tão confusos diante das opções que temos, que não sabemos nem mesmo como apresentar os nossos desejos e as nossas dúvidas diante de Deus. Todavia, o Espírito nos socorre. Ele “ora a nosso favor quando nós mesmos deveríamos ter orado, porém não sabíamos para que orar.”[4]
Orar como convém é orar segundo a vontade de Deus, colocando os nossos desejos em harmonia com o santo propósito de Deus; isto só é possível pelo Espírito de Deus que Se conhece perfeitamente (1Co 2.10-12). Assim, toda oração genuína é sob a orientação e direção do Espírito (Ef 6.18; Jd 20). O Catecismo Maior de Westminster, diz: “Não sabendo nós o que havemos de pedir, como convém, o Espírito nos assiste em nossa fraqueza, habilitando-nos a saber por quem, pelo quê, e como devemos orar; operando e despertando em nossos corações (embora não em todas as pessoas, nem em todos os tempos, na mesma medida) aquelas apreensões, afetos e graças que são necessários para o bom cumprimento do dever.”[5]
O Espírito ora conosco e por nós; Ele, juntamente com Cristo, em esferas diferentes, intercede por nós: “Cristo intercede por nós no céu, e o Espírito Santo na terra. Cristo nosso Santo Cabeça, estando ausente de nós, intercede fora de nós; o Espírito Santo nosso Consolador intercede em nosso próprio coração quando Ele o santifica como Seu templo”, contrasta Kuyper (1837-1920).[6]
A intercessão de Cristo respalda-se nos Seus merecimentos, obtendo para os Seus eleitos, os frutos da Sua Obra expiatória (Rm 8.34; Hb 7.25; 1Jo 2.1).[7] O Espírito intercede por nós considerando as nossas necessidades vitais e costumeiramente, imperceptíveis aos nossos próprios olhos.
Calvino observou que na oração, "a língua nem sempre é necessária, mas a oração verdadeira não pode carecer de inteligência e de afeto de ânimo",[8] a saber: "O primeiro, que sintamos nossa pobreza e miséria, e que este sentimento gere dor e angústia em nossos ânimos. O segundo, que estejamos inflamados com um veemente e verdadeiro desejo de alcançar misericórdia de Deus, e que este desejo acenda em nós o ardor de orar."[9]
O Espírito, que procede do Pai e do Filho, é Quem nos guia em nossas orações, fazendo-nos orar corretamente ao Pai. De fato, Deus propiciou para nós todos os elementos fundamentais para a nossa santificação (2 Pe 1.3); a ação do Espírito aponta nesta direção, indicando também, que as nossas orações são “imperfeitas, imaturas, e insuficientes”, por isso Ele nos auxilia, nos ensinando a orar como convém.
Paulo fala que nós, os crentes em Cristo, recebemos o Espírito de ousada confiança em Deus, que nos leva, na certeza de nossa filiação divina, a clamar ”Aba, Pai”. ”Porque não recebestes o espírito de escravidão para viverdes outra vez atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai” (Rm 8.15). O fato de Paulo usar a mesma expressão de Cristo para nós “significa que, quando Jesus deu a Oração Dominical aos Seus discípulos, também lhes deu autoridade para segui-Lo em se dirigirem a Deus como ‘abbã’, dando-lhes, assim, uma participação na Sua condição de Filho.”[10] Somente pelo Espírito poderemos nos dirigir a Deus desta forma, como uma criança que se lança sem reservas nos braços do seu Pai amoroso.
Quando oramos sabemos que estamos falando com o nosso Pai. Desta forma, a oração é uma prerrogativa dos que estão em Cristo. Somente os que estão em Cristo pela fé, têm a Deus como o seu legítimo Pai (Jo 1.12; Rm 8.14-17; Gl. 4.6; 1Jo 3.1-2). De onde se segue que esta oração (Pai Nosso), apesar de não mencionar explicitamente o nome de Cristo, é feita no Seu nome, visto que somos filhos de Deus – e é nesta condição que nos dirigimos a Deus –, através de Cristo Jesus (Gl 3.26).[11] Portanto, quando oramos o Pai Nosso sinceramente, na realidade estamos orando no nome de Jesus Cristo pois, foi Ele mesmo quem nos ensinou a fazê-lo. Assim, devemos, pelo Espírito – nosso intercessor –, no nome de Jesus – nosso Mediador –, orar: “Pai nosso que estás no céu....”.
O Espírito que em nós habita e nos leva à oração testemunha em nós que somos filhos de Deus. “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.16); O Pai Nosso é a “Oração dos Filhos”.[12]
Orar ao Pai não significa simplesmente usar o Seu nome, mas, sim, dirigir-nos de fato a Ele conforme os Seus preceitos, em submissão à Sua vontade. Uma oração francamente oposta aos ensinamentos de Jesus não pode ser considerada de fato uma oração dirigida ao Pai, por mais que usemos e repitamos o nome de Jesus.
O problema, dentro do contexto vivido por Jesus, é que muitos dos judeus, na realidade, ofereciam as suas orações aos homens, mesmo usando o nome de Deus. Usar o nome de Deus não é garantia de estarmos nos dirigindo a Ele. Do mesmo modo, podemos estar tão preocupados com a forma de nossas orações que nos esquecemos do Pai; é a Ele que a nossa oração é destinada; portanto, cabe a Ele, que vê em secreto, julgá-la. A nossa oração não necessita ter publicidade para que Deus a ouça; Ele vê em secreto e nos recompensa conforme o que vê (Mt 6.6).
Bonhoeffer (1906-1945), comenta: “Uma criança aprende a falar porque seu pai fala com ela. Ela aprende a falar a língua paterna. Assim também nós aprendemos a falar com Deus, porque Deus falou e fala conosco. Pela palavra do Pai no céu seus filhos aprendem a comunicar-se com Ele. Ao repetir as próprias palavras de Deus, começamos a orar a Ele. Não oramos com a linguagem errada e confusa de nosso coração, mas pela palavra clara e pura que Deus falou a nós por meio de Jesus Cristo, devemos falar com Deus, e Ele nos ouvirá.”[13]
2. O Espírito como Mestre da oração na Palavra 
Não deixa de ser instrutivo e revelador o fato de Calvino, na edição final da Instituição (1559), ter tratado da doutrina da Eleição depois de um longo capítulo sobre a oração que, sozinho, é maior do que os quatro dedicados à doutrina da eleição.[14]
De forma figurada, Calvino diz que “o coração de Deus é um ‘Santo dos Santos’, inacessível a todos os homens”, sendo o Espírito Quem nos conduz a ele.[15] Ele entendia que “com a oração encontramos e desenterramos os tesouros que se mostram e descobrem à nossa fé pelo Evangelho” e,[16] que “a oração é um dever compulsório de todos os dias e de todos os momentos de nossa vida”[17]e: “Os crentes genuínos, quando confiam em Deus, não se tornam por essa conta negligentes à oração.”[18] Portanto, este tesouro não pode ser negligenciado como se “enterrado e oculto no solo!”.[19] “A oração tem primazia na adoração e no serviço a Deus.”[20] Daí o seu conselho: “A não ser que estabeleçamos horas definidas para a oração, facilmente negligenciaremos a prática.”[21] No entanto, devemos ter sempre presente o fato, que é o Espírito “Quem deve prescrever a forma de nossas orações.”[22]
“A função peculiar do Espírito Santo consiste em gravar a Lei de Deus em nossos corações.”[23] É o Espírito Quem nos ensina através das Escrituras;[24] esta é “a escola do Espírito Santo”,[25] que é a “escola de Cristo”;[26] e, o Espírito é o “Mestre”; [27] “o melhor Mestre”;[28] é o “Mestre interior”.[29] “O Espírito de Deus, de quem emana o ensino do evangelho, é o único genuíno intérprete para no-lo tornar acessível.”[30] Comentando 2Co 2.11, Calvino arremata: “Não há nada no próprio Deus que escape ao seu Espírito”.[31] Portanto, “Se porventura desejamos lograr algum progresso na escola do Senhor, devemos antes renunciar nosso próprio entendimento e nossa própria vontade.”[32]
Conclusão 
Orar é exercitar a nossa confiança no Deus da Providência, sabendo que nada nos faltará, porque Ele é o nosso Pai. A oração tem sempre uma conotação de submissão confiante. Portanto, orar ao Pai, significa sintonizar a nossa vontade com a dEle; sabendo que Ele é santo e a Sua vontade também o é (Mt 6.9,10).
A presença e direção do Espírito na vida do povo de Deus é uma realidade. Desconsiderar este fato significa desprezar o registro bíblico e o testemunho do Espírito em nós (Rm 8.16).
O Espírito em nós é uma fonte de consolo e estímulo à perseverança e obediência devida a Deus. Consideremos este fato – à luz da Palavra e da nossa experiência – em todos os nossos caminhos, e o Espírito mesmo nos iluminará. Amém!


NOTAS:

[1] Agostinho, Comentários aos Salmos, São Paulo, Paulus, (Patrística, 9/3), 1998, (Sl (102)101), Vol. III, p. 12.
[2]J. Calvino, Institución, III.20.34. Ver também, J. Calvino, O Catecismo de Genebra, Perg. 254. In: Catecismos de la Iglesia Reformada, Buenos Aires, La Aurora, 1962.
[3] Vd. João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo, Paracletos, 1999, Vol. 1, p. 34.
[4] Edwin H. Palmer, El Espiritu Santo, Gran Bretaña, El Estandarte de la Verdad, (s.d.), p. 190.
[5] Catecismo Maior de Westminster, Perg. 182.
[6] Abraham Kuyper, The Work of the Holy Spirit, Chaattanooga, AMG. Publishers, 1995, p. 670.
[7] “Não temos como medir esta intercessão pelo nosso critério carnal, pois não podemos pensar do Intercessor como humilde suplicante diante do Pai, com os joelhos genuflexos e com as mãos estendidas. Cristo contudo, com razão intercede por nós, visto que comparece continuamente diante do Pai, como morto e ressurreto, que assume a posição de eterno intercessor, defendendo-nos com eficácia e vívida oração para reconciliar-nos com o Pai e levá-lo a ouvir-nos com prontidão.” [J. Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo, Paracletos, 1997, (Rm 8.34), p. 304].
[8]J. Calvino, Catecismo de Genebra, Perg. 240.
[9]J. Calvino, Catecismo de Genebra, Perg. 243. Ver também: Ph. J. Spener, Mudança para o Futuro: Pia Desideria, São Paulo/Curitiba. PR., Encontrão Editora/Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião, São Bernardo do Campo, SP., 1996, p. 119.
[10] O. Hofius, Pai: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo, Vida Nova, 1981-1983, Vol. III, p. 383.
[11] Vd. Calvino, As Institutas, Campinas/São Paulo, SP. Luz para o Caminho/Casa Editora Presbiteriana, (1985-1989), III.20.36.
[12] Conforme expressão de Lloyd-Jones (1899-1981) (D.M. Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte, São Paulo, FIEL., 1984, p. 358). Vd. a relação feita por Calvino entre a oração e a convicção de nossa filiação divina (João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 8.16), p. 279-280).
[13] Dietrich Bonhoeffer, Orando com os Salmos, Curitiba, PR., Encontrão Editora, 1995, p. 12-13.
[14]Vd. J. Calvino, As Institutas, III.20. Do mesmo modo, no Catecismo de Genebra, das 373 perguntas, Calvino dedica 63 à oração.
[15] João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo, Paracletos, 1996, (1Co 2.11), p. 88.
[16] J. Calvino, As Institutas, III.20.2. Em outro lugar, escreve: “Se devemos receber algum fruto de nossas orações, devemos também crer que os ouvidos de Deus não se fecharam contra elas.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 6.8-10), p. 133]. “A genuína oração provém, antes de tudo, de um real senso de nossa necessidade, e, em seguida, da fé nas promessas de Deus” (João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, p. 34). “Nossas orações só são aceitáveis quando as oferecemos em submissão aos mandamentos de Deus e somos por elas animados a uma consideração da promessa que Ele tem formulado.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo, Paracletos, 1999, Vol. 2, (Sl 50.15), p. 412]. Comentando Rm 12.12, enfatiza que “a diligência na oração é o melhor antídoto contra o risco de soçobrarmos.” [João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 12.12), p. 438].
[17]João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 50.14-15), p. 410.
[18] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 30.6), p. 633. “Quando a segurança carnal se haja assenhorado de alguém, tal pessoa não pode entregar-se alegremente à oração até que seja feita maleável pela cruz e completamente subjugada. E esta é a vantagem primordial das aflições, ou seja, enquanto nos tornam conscientes de nossa miséria, nos estimulam novamente para suplicarmos o favor divino.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 30.8), p. 635].
[19] João Calvino, As Institutas, III.20.1.
[20]João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo, Parakletos, 2000, Vol. 1, (Dn 6.10), p. 371.
[21] João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo, Parakletos, 2000, Vol. 1, (Dn 6.10), p. 375.
[22]J. Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 8.26), p. 291.
[23] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 40.8), p. 228. “O ensino interno e eficaz do Espírito é um tesouro que lhes pertence de forma peculiar. (...) A voz de Deus, aliás, ressoa através do mundo inteiro; mas ela só penetra o coração dos santos, em favor de quem a salvação está ordenada.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 40.8), p. 229].
[24] Vd. J. Calvino, As Institutas, I.9.3.
[25]“A Escritura é a escola do Espírito Santo, na qual, como nada é omitido não só necessário, mas também proveitoso de conhecer-se, assim também nada é ensinado senão o que convenha saber.” (J. Calvino, As Institutas, III.21.3). Vd. também, As Institutas, IV.17.36. Calvino pode com razão ser chamado de o Teólogo da Palavra e do Espírito Santo. Philip Schaff diz que a “teologia de Calvino está baseada sobre um perfeito conhecimento das Escrituras.” (Philip Schaff & David S. Schaff, History of the Christian Church, Peabody, Massachusetts, Hendrickson Publishers, 1996, Vol. VIII, p. 261). Murray, não isoladamente declara: “Calvino tem sido corretamente chamado de o teólogo do Espírito Santo.” ([John Murray, Calvin as Theologian and Expositor, Carlisle, Pennsylvania, The Banner of Truth Trust, (Collected Writings of John Murray, Vol. I), 1976, p. 311). O primeiro a assim designá-lo foi o teólogo presbiteriano B.B. Warfield (1851-1921). (B.B. Warfield, Calvin and Augustine, Philadelphia, Presbyterian & Reformed Publishing, 1956, p. 21-24,107 (Cf. Hendriksus Berkhof, La Doctrina del Espiritu Santo, Buenos Aires, Junta de Publicaciones de las Iglesias Reformadas/Editorial La Aurora, (1969), p. 23; D.M. Lloyd-Jones, Deus o Espírito Santo, São Paulo, PES., 1998, p. 13; I. John Hesselink, O Movimento Carismático e a Tradição Reformada. In: Donald K. McKim, ed. Grandes Temas da Tradição Reformada, São Paulo, Pendão Real, 1999, p. 339; Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, São Paulo, Os Puritanos, 2000, p. 10).
[26]João Calvino, Efésios, São Paulo, Paracletos, 1998, (Ef 4.17), p. 133.
[27] João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 1.16), p. 58.
[28]João Calvino, As Institutas, IV.17.36. Calvino diz que quem rejeita o “magistério do Espírito”, é desvairado. (João Calvino, As Institutas, I.9.1).
[29] João Calvino, As Institutas, III.1.4; III.2.34; IV.14.9.
[30]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 2.14), p. 93.
[31] João Calvino Exposição de 1 Coríntios, (1Co 2.11), p. 88.
[32]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 3.3), p. 100.
Fonte: Revista "Pensador Cristão", Junho/2002.  (http://www.monergismo.com/textos/oracao/espiritosanto_oracao.htm)