Deploramos o pessimismo que leva alguns cristãos a reprovar o engajamento cultural ativo no mundo, bem como o derrotismo que persuade outros de que nenhum bem poderiam fazer nestas atividades, e que, portanto, deveriam esperar imóveis que Cristo conserte as coisas quando voltar. Muitos são os exemplos históricos, tirados de diferentes épocas e países, que poderiam ser dados da poderosa influência que, coma ajuda de Deus, a igreja tem exercido numa cultura predominante, purificando-a, reivindicando-a e embelezando-a para Cristo. Embora todas as tentativas até aqui feitas nesse sentido tenham tido seus defeitos, isso não prova que estes empreendimentos não deveriam ter sido realizados.
Preferimos, entretanto, fundamentar a responsabilidade cultural da igreja na Escritura e não na história. Lembremo-nos de que nossos semelhantes foram feitos à imagem de Deus, e que nos foi recomendado honrá-los, amá-los e servir a eles em todas as esferas da vida. A esse argumento da criação de Deus acrescentamos outro: o de seu reino, que irrompeu no mundo através de Jesus Cristo. Toda autoridade pertence a Cristo. Ele é Senhor tanto do universo como da igreja. E nos enviou ao mundo para sermos sal e luz. Como sua nova comunidade, ele espera que permeemos a sociedade.
Assim, nosso papel é desafiar o mal e afirmar o bem; acolher e procurar promover tudo o que é sadio e enriquecedor na arte, na ciência, na tecnologia, na agricultura, na indústria, na educação, no desenvolvimento comunitário e bem-estar social; denunciar a injustiça e apoiar os impotentes e oprimidos; espalhar o evangelho de Jesus Cristo, que é a força mais liberalizante e humanizante do mundo, e empenharmo-nos ativamente nas boas obras do amor. Embora, tanto nas atividades sócio-culturais como na evangelização, os resultados devam ficar com Deus, confiamos em que ele abençoará nossos esforços e fará uso deles para desenvolver em nossa comunidade uma nova consciência do que é “verdadeiro, digno, justo, puro, amável e honesto” (Fp 4:8, BLH). Naturalmente, a igreja não pode impor padrões cristãos a uma sociedade que se mostre indisposta contra eles, mas pode recomendá-los tanto pelo argumento como pelo exemplo. Tudo isso trará glória a Deus e, para nossos semelhantes, que ele criou e ama, uma experiência cada vez maior de uma vida realmente humana. Como o Pacto de Lausanne colocou a questão: “As igrejas devem se empenhar em enriquecer e transformar a cultura local, tudo para a glória de Deus” (§ 10).
Apesar disso, o otimismo ingênuo é tão tolo como o pessimismo total. Em lugar de ambos procuramos um sóbrio realismo cristão. Por um lado, Jesus Cristo reina; por outro, ainda não destruiu as forças do mal: elas ainda provocam alvoroço. Assim, em toda cultura os cristãos se acham numa situação de conflito e quase sempre de sofrimento. Somos chamados a lutar contra as forças cósmicas “desta época de escuridão” (Ef 6:12 BLH). E assim precisamos uns dos outros. É necessário que todos nós vistamos a armadura de Deus, especialmente a arma poderosa da oração da fé. Também lembramos as advertências de Cristo e seus apóstolos, segundo as quais antes do fim haverá uma explosão sem precedentes de perversidade e violência. Alguns eventos e processos no mundo contemporâneo indicam que o espírito do Anticristo, que está por vir, já se acha em aça, não só em países não-cristãos, mas também em nossa própria sociedade parcialmente cristianizada, e mesmo nas próprias igrejas. “Portanto, rejeitamos como sendo apenas um sonho orgulhoso e autoconfiante a idéia de que o homem possa algum dia construir uma utopia neste mundo” (Pacto de Lausanne, §15), considerando uma fantasia sem fundamento a idéia de que a sociedade venha a se tornar perfeita.
Ao invés disso, enquanto energicamente trabalhamos na terra, esperamos com jubilosa antecipação o retorno de Cristo, e os novos céus, bem como a nova terra, em que a justiça habitará. Pois então não só será transformada a cultura, à medida que as nações trouxerem sua glória à Nova Jerusalém (Ap 2:24-26), como será libertada toda a criação da presente servidão à futilidade, decadência e sofrimento, de maneira a poder participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus (Rm 8:18-25). Então, finalmente, todo joelho se dobrará diante de Cristo, e toda língua proclamará abertamente que ele é Senhor para a glória de Deus pai (Fp 2:9-11).
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