Fonte: Extraído do Livro "Socorro! Sou professor da Escola Dominical" - Lécio Dornas (Editora Hagnos)
Como ajudar sua igreja a crescer através da Escola Dominical
Abra a sua boca com sabedoria, e o ensino da benevolência estará na sua língua (Pv 31.26).
Tenho notado uma reclamação generalizada. São professores reclamando que seus alunos não estudam a lição nem fazem as leituras diárias; são alunos reclamando de professores despreparados que dão aulas monótonas e sem motivação; são pastores se queixando da falta de líderes para a Escola Dominical; são líderes reclamando da falta de apoio dos seus pastores etc. Parece que ninguém está satisfeito com o desempenho atual da Escola Dominical. Se pararmos para analisar, cada crítica tem certo grau de fundamento, todos têm algum nível de razão, a partir de sua perspectiva.
O fato é que a Escola Dominical vive dias de indiferença por parte de muitos. Realmente, precisamos construir um escala para identificar onde começa esta cadeia de desinteresse pelo estudo das Escrituras nos arraiais da igreja. Sabemos, pela experiência de muitos anos ministrando em diversas partes do país e no exterior sobre o ensino na Escola Dominical, que vivemos hoje uma realidade bem diferente da de algumas décadas atrás. Ê do conhecimento de todos que há trinta ou quarenta anos, o número de alunos matriculados nas classes da Escola Dominical de uma igreja era quase sempre maior do que o número de membros da mesma. Hoje tal realidade é muito rara. O que teria ocorrido? Tudo leva a crer num processo de desmotivação que não encontrou, ao longo dos anos, antídoto suficientemente eficaz para revertê-lo. Ao que parece, algumas coisas foram acontecendo que resultaram no afastamento de muitos e no desinteresse de outros pela Escola Dominical.
Não vamos nos alongar aqui em identificar os motivos de tal arrefecimento, mas um dos principais fenômenos que entendemos ter contribuído para esse quadro foi a perda de um dos principais objetivos da Escola Dominical, a evangelização.
Em 1963, o Dr. J.N. Barnette escreveu o livro The Place of Sunday School in Evangelism (O lugar da Escola Dominical no evangelismo) [[1]], em que discute com propriedade e profundidade o papel desempenhado pela Escola Dominical no cumprimento da grande comissão de Mateus 28.18-20.
Em 1981, o Dr. Harry Piland foi o organizador de um livro que foi publicado com o título Growing and Winning through the Sunday School (Crescendo e vencendo através da Escola Dominical) [[2]]. Trata-se de um livro cujos capítulos foram escritos pelos principais líderes americanos, peritos no ministério da Escola Dominical, homens como James Frost, Eugene Skelton, Bernard Spooner, Harry Piland, John Sisemore e Lucien Coleman, Jr. Todo o livro é voltado para a instrumentalização da Escola Dominical para a evangelização e o conseqüente crescimento da igreja. Inclusive, num capítulo primoroso o Dr. Lucien E. Colemann, Jr escreveu sobre "Teach the Bible to Win the Lost and Develop the Saved" (Ensinar a Bíblia para ganhar os perdidos e desenvolver os salvos) [[3]], em que deixa claro que a mesma Bíblia, com sua vigorosa e objetiva mensagem, evangeliza os perdidos e aperfeiçoa os crentes.
Em 1983, foi a vez do Dr. John T. Sisemore escrever seu livro Church Growth through the Sunday School[[4]] (Crescimento da igreja através da Escola Dominical). Neste livro, ele demonstra como a igreja pode aproveitar o potencial evangelizador da Escola Dominical. Fica claro que, sendo fiel ao seu objetivo evangelizador, a Escola Dominical proverá a igreja local de um crescimento tal que a forçará a ampliar sua visão, seu espaço físico e sua estratégia de ministração aos crentes e não-crentes.
Desde sua gênese com Robert Raikes (1736-1811), na Inglaterra, a Escola Dominical foi dirigida a crianças fora do ambiente da igreja. Eram crianças que estavam nas ruas aprendendo coisas ruins e sendo formadas pela vida das ruas na escola da imoralidade e da desonestidade. Raikes investiu num projeto que visava tirar as crianças das ruas no dia em que elas lá permaneciam por mais tempo: o domingo. Pouco a pouco, a Escola Dominical de Raikes foi crescendo e sua idéia se espalhou de tal forma que há notícias de que em 1831, 20 anos após sua morte, havia na Grã-Bretanha escolas dominicais que, unidas, envolviam no estudo da Palavra de Deus, semanalmente, perto de 1.250.000 crianças (aproximadamente 25% da população!) [[5]].
A irmã Cathryn Smith, vida gasta no Brasil pela causa da Educação Religiosa, foi a organizadora do Programa de Educação Religiosa da Convenção Batista Brasileira que agora, em sua 6ª edição, foi revisado, atualizado e ampliado[[6]]. Discutindo sobre as tarefas da Escola Dominical, o livro é contundente ao afirmar que esta organização "é a agência evangelizadora por excelência na igreja"[[7]].
Ainda entre os batistas, no Congresso Batista Brasileiro, realizado em 1991, no Rio de Janeiro, o tema da Educação Religiosa foi exposto por três preletores e amplamente discutido num Grupo de
Aprofundamento que, ao final, apresentou como parte de suas conclusões: "Que se dê ênfase à EBD como agência evangelizadora"[[8]]. Em 1993, aconteceu o I Congresso Batista Brasileiro de Escola Dominical, também no Rio de Janeiro, onde se procurou chamar a atenção para a importância da Escola Dominical para a viabilização do crescimento integral da igreja.
Entretanto, não obstante a história e a fundamentação teórica da Escola Dominical, o fato é que, com o passar dos anos, as igrejas evangélicas do Brasil foram abandonando o seu ideal evangelizador. É incrível, mas hoje a maior parte do material didático preparado para a Escola Dominical tem linguajar e filosofia editorial voltada para os membros da igreja. Na própria realidade íntima da igreja, a ênfase na Escola Dominical é quase que totalmente direcionada para os crentes.
Entendemos, em parte, a questão da ênfase evangelística aos domingos à noite, em boa parte das igrejas evangélicas do Brasil. O que não entendemos é o desperdício da oportunidade de evangelizar amigos, vizinhos e parentes através do estudo da Palavra de Deus.
A conseqüência desse abandono do desideratum evangelístico da Escola Dominical é que hoje são raras as igrejas evangélicas no Brasil que têm um número de matriculados na Escola Dominical sequer igual ao de seus membros. Na grande maioria das igrejas, trava-se; uma verdadeira batalha para que pelo menos os membros sejam alunos da Escola Dominical.
Muito se tem discutido sobre como reverter este quadro e retomar para a Escola Dominical o valor que a ela deve ser dedicado pela igreja. Com o propósito de contribuir para a melhoria do quadro atual, vamos oferecer algumas sugestões para o resgate do valor da Escola Dominical na vida da igreja local. Ao fazê-lo, estamos pensando não apenas no professor, mas nos líderes em geral de uma igreja que deseja crescer através da Escola Dominical.
CONQUISTE O PASTOR
O ponto de partida precisa, necessariamente, ser o pastor da igreja. Está mais do que constatado que se o pastor está à frente tudo é bem mais fácil. Ele precisa ser conquistado pelos educadores da igreja. Em muitos casos o pastor não tem qualquer formação educacional, muitos têm uma visão distorcida, voltada somente para a evangelização. Há os que sequer mostram interesse pela Escola Dominical.
Assim, o primeiro passo é chamar o pastor e mostrar a ele a importância e o potencial da Escola Dominical.
Muitos pastores não ajudam a Escola Dominical simplesmente porque não sabem como fazê-lo.
Nesse caso é importante que os educadores da igreja o instruam com sabedoria, informando a ele quais seriam suas atribuições como supervisor geral do programa educacional da igreja.
Por sua vez, o pastor precisa ter humildade e discernimento espiritual para cooperar com os líderes e educadores de sua congregação, no afã de dinamizar a Escola Dominical. Se for sábio, além de uma equipe bem motivada e disposta, o pastor experimentará como é maravilhoso e seguro o crescimento que nasce do trabalho de uma Escola Dominical dinâmica.
CONSCIENTIZE OS PAIS
O próximo passo é atingir o coração dos pais. É preciso mostrar-lhes que, através da Escola Dominical, a igreja está lhes ajudando na educação religiosa dos seus filhos. Eles precisam entender que devem investir na vida espiritual de seus filhos desde a infância, pois se a criança aprende a gostar da igreja, da classe, das pessoas da igreja; ao crescer tenderá a integrar-se ainda mais. Se na infância a criança não for ensinada a gostar da igreja se afastará completamente na primeira chance que tiver.
Os pais precisam compreender que é através do seu exemplo e do seu estímulo que os filhos assimilarão a importância da igreja em suas vidas. Aqui entram em destaque o culto doméstico, a disciplina e a responsabilidade para com Deus, a oração em família e os diálogos entre pais e filhos acerca de Deus e do Evangelho[[9]]. Se os educadores da igreja conseguirem atingir o coração dos pais, ao ponto de fazê-los entender que precisam levar a sério a Escola Dominical, tanto para si próprios quanto para os seus filhos, então, um novo e bonito começo se avizinha.
BUSQUE A JUVENTUDE
Em muitas igrejas a juventude está alheia a tudo o que acontece. Não se envolve, não participa, não se interessa. A igreja, por seu lado, ignora o fato, agindo como se nada estivesse acontecendo.
Notamos que de há muito tem caído a presença jovem na Escola Dominical.
Os educadores, apoiados pelo pastor da igreja, precisam abrir o diálogo com a juventude, descobrir o que está havendo, encontrar saídas em conjunto. Em muitos casos a secularização dos jovens é a principal causa do seu afastamento, mas não conclua isso sem antes conversar com a juventude. Pode estar havendo desinteresse em função de quem está ensinando ou por causa dos assuntos apresentados, do horário etc. Sentando-se à mesa juntos, pastor, educadores e jovens, certamente surgirão caminhos que poderão mudar o quadro vigente.
Querer forçar os jovens a chegar mais cedo para a Escola Dominical, fechar as portas para o diálogo, ignorar o fato, adotar uma postura de crítica e queixas; nada disso resolverá o problema. Os jovens precisam ser despertados e convencidos, através do diálogo e do respeito mútuo, quanto ao valor e a importância da Escola Dominical para suas vidas.
MOTIVE OS PROFESSORES
Tudo pode estar absolutamente correto: alunos presentes, material didático apropriado, ambiente de ensino adequado etc, mas se o professor não estiver preparado e motivado, tudo vai se perder. É, exatamente isso que tem acontecido em muitas igrejas, o despreparo e a desmotivação de professores têm colocado a perder todo empenho, inclusive financeiro, que as mesmas têm empregado em favor da Escola Dominical.
O Dr. Charles A. Tidwell, uma das pessoas mais respeitadas no campo da Educação Cristã, nos
Estados Unidos, salientou num dos seus livros[[10]] a importância do professor, inclusive sobre os demais obreiros, na execução bem-sucedida do programa de ensino-aprendizagem da Escola Dominical. Neste livro, o Dr. Tidwell alista cinco principais tarefas da Escola Dominical: arregimentar pessoas para o estudo da Bíblia, ensinar a Bíblia, testemunhar para as pessoas sobre Jesus e levá-las a serem membros da igreja, ministrar para alunos e não alunos da Escola Dominical e conduzir os alunos a um culto verdadeiro. Para o cumprimento de todas estas tarefas, o papel desempenhado pelo professor é de importância fundamental[[11]].
E tarefa do pastor e dos educadores da igreja despertar o interesse, motivar e conscientizar os professores da Escola Dominical da sua importância e valor no ministério de ensino da igreja. Quando isso não ocorre, o resultado pode ser o enfraquecimento e até a falência da Escola Dominical. O Dr. Tidwell informa que nos Estados Unidos, denominações como a Metodista e a Presbiteriana Episcopal tiveram o número de arrolados na Escola Dominical decrescido em 25% entre 1970 e 1980[[12]]. Embora ele não especifique as razões de tal decréscimo, podemos facilmente entender que a fuga dos objetivos fundamentais da Escola Dominical estava incluída entre essas razões. E na posição de garantir que as tarefas da Escola Dominical sejam de fato cumpridas de forma efetiva, está o professor.
A questão emergente, porém, é como motivar professores que, durante anos e anos vêm avalizando um modelo retrógrado e decadente de ensino na Escola Dominical, onde impera o famoso "faz-de-conta": Ele faz-de-conta que ensina e o aluno que aprende; a igreja faz-de-conta que tudo está bem, quando, de fato, nada, está bem. Se um professor está há anos envolvido neste "faz-de-conta" terrível, vai precisar de muita paciência e atenção por parte dos líderes e do pastor para ter resgatado seu potencial de educador. Deve-se começar mostrando ao professor uma estatística de sua classe, em termos de presença, pontualidade, evasões etc. Em seguida, deve-se informar a ele sobre estratégias de retomada de crescimento (e aí os capítulos iniciais deste livro poderão ajudar). Chegará, então, o tempo de ajudar a recuperar a confiança da classe no trabalho do professor. Tudo será possível se as coisas forem feitas sob oração e dependência do nosso Deus. O esforço deve ser no sentido de conquistar o professor e nunca de abrir mão do seu trabalho. Numa comparação feita entre o profeta e o sacerdote, Washington Roberto Nascimento identificou o profeta com o jequitibá, árvore forte e milenar; quanto ao sacerdote, comparou-o ao eucalipto, planta frágil e fugaz. Disse que um eucalipto nunca se transformará em jequitibá, a menos que dentro dele haja um jequitibá adormecido[[13]]. O mesmo podemos dizer do professor acomodado a um sistema retrógrado: se houver nele um educador adormecido, poderá se transformar num professor dinâmico e criativo. A tarefa do pastor e dos líderes da igreja é exatamente a de despertar o educador adormecido no interior de alguns professores da Escola Dominical.
PROMOVA A ESCOLA DOMINICAL
"Há tremendos benefícios em se participar da Escola Dominical. O problema é que a igreja não tem promovido efetivamente seus benefícios e valores"[[14]]. Com esta declaração, Jerry Wilkins começa a fundamentar a argumentação do seu atual e empolgante livro Marketingyour Sunday School – Strategies for the 21 st. Century (Promovendo sua Escola Dominical - Estratégias para o Século 21).
Ignorar a necessidade de se promover não apenas o que a Escola Dominical oferece, mas o que ela representa em termos de benefícios para aqueles que dela participam, é não atentar para a principal ferramenta de crescimento empresarial e institucional do nosso tempo: o marketing. Tudo depende de como você anuncia, que tipo de imagem você gera em torno do seu produto ou serviço. Na maioria das Escolas Dominicais do nosso país não existe nenhuma estratégia de marketing definida, quase nenhuma propaganda é feita. As pessoas precisam descobrir sozinhas o que é, como funciona e a relevância da Escola Dominical. Isso é simplesmente absurdo! Num mundo de alta competitividade, onde cada um tenta arrastar as pessoas na direção de suas propostas, cruzar os braços e não ter qualquer estratégia de marketing é aceitar a falência gradual. Os vizinhos da sua igreja sabem o que é a Escola Dominical, sabem que há uma em sua igreja, como funciona, que benefícios oferece aos participantes, quanto custa participar, quem pode fazê-lo? Uma simples e criativa mala-direta informando o que é e como funciona a Escola Dominical pode atrair pessoas interessadas no estudo da Bíblia. A promoção precisa também atingir os membros da igreja. Quais são os prejuízos de não participar da Escola Dominical, que vantagens são apresentadas aos que passarem a dela participar? Ao partir para uma estratégia de promoção da Escola Dominical, a igreja começa a demonstrar, pelo menos, que ela própria acredita no que está oferecendo. Se alguém promove o que faz, crê na sua eficácia.
TEMPO DE CRESCER
As sugestões mencionadas poderão ajudar muito no crescimento da sua Escola Dominical.
Certamente, depois de vê-la funcionando a todo vapor, a igreja sentirá como é importante investir e usar a estrutura da Escola Dominical para o seu crescimento. Haverá uma mudança na maneira de olhar para a Escola Dominical e, conseqüentemente, crescerá o interesse de todos pelo estudo da Palavra de Deus.
[2] - PILAND, Harry(Compi\er).Growingand Winning throughthe Sunday school. Nashville: Convention 1981, 251 p.
[6] - SMITH, Cathryn. Programa de Educação Religiosa. 6a. ed, Revista e Atualizada, Rio de Janeiro: Juerp, 1995, 112p.
[8] - Com os Olhos no Futuro - Teses do Congresso Batista Brasileiro. Rio de Janeiro: Juerp/Conselho de Planejamento e Coordenação da CBB, 1991, p.203.
[9] - AZEVEDO, Israel Belo de. Descubra Agora Como Viver Bem em Família. São Paulo: Exodus, 1997, 80p.
[13] - NASCIMENTO, Washington Roberto. Igreja e Secularização. Rio de Janeiro: Intercom Publicações, 1995, 81p.
[14] - WILKINS, Jerry. Marketing your Sunday School - Strategies for the 21 st. Century. Nashville: Broadman, 1992, p.
Que texto!
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