quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Lição 06 - A eficácia do testemunho cristão (2)

Extraído do Livro "O Sermão da Montanha", de J. DWIGHT PENTECOST (Editora Vida)

O Sal da Terra

Mateus 5:13-16

  Talvez as palavras que mais se ouvem à mesa de refeições sejam Por favor, passe-me o sal. O sal é ingrediente necessário em nossos alimentos, e nossa saúde depende de um consumo adequado de sal. Adicionamos este elemento à alimentação não só para tomá-la mais saborosa, mas também para manter o correto equilíbrio do organismo, tão necessário à saúde. A dosagem excessiva ou deficiente de sal pode causar distúrbios indesejáveis ao nosso bem-estar físico.
  O valor do sal tem sido estimado desde tempos imemoriais. Os soldados romanos eram pagos com sal e, se algum deles era desleixado no cumprimento dos deveres, dizia-se que "não valia o seu sal". Em todas as sociedades antigas o sal era usado como sinal de amizade, conceito que ainda prevalece. No mundo árabe, se um homem participa do sal de outro, isto é, se toma refeição com este, aquele está sob a proteção e cuidado do anfitrião. Se o pior inimigo de alguém chegasse à sua tenda e comesse do seu sal, o hospedeiro estaria obrigado a protegê-lo e fornecer-lhe provisão como se fosse o mais prezado amigo.
Dessa idéia surgiu o conceito da aliança de sal, mencionada em 2 Crônicas 13:5, onde Deus fala de uma aliança de sal que fez com Davi. Antes dos tempos dos tabeliães que podiam autenticar a legalidade de um documento, quando duas partes transacionavam um acordo, regateavam sobre as condições até chegarem a um acordo definitivo. Então juntos comiam sal ou porções de alimento: o ato de comer o sal sujeitava-os àquilo que chamavam pacto de sal. Este pacto ou aliança estabelecia um contrato inviolável.
  Deus prescreveu o sal como parte necessária dos sacrifícios. "Toda oferta dos teus manjares temperarás com sal; à tua oferta de manjares não deixarás faltar o sal da aliança do teu Deus: em todas as tuas ofertas aplicarás sal" (Levítico 2:13). Deus disse que se não adicionassem sal à oferta, ela seria inaceitável. A oferta devia ser integral, e sem o sal ela era incompleta.
  Jó refere-se ao sal como ingrediente necessário à alimentação, ao formular a pergunta: "Comer-se-á sem sal o que é insípido? ou haverá sabor na clara do ovo?" (Jó 6:6). Já nos tempos de Jó os homens reconheciam a importância do sal e lhe atribuíam especial significado.
  Quando o Senhor disse aos discípulos "Vós sois o sal da terra" (Mateus 5:13), estava falando de algo trivial, mas de grande significado na experiência deles. Se o sal perdesse o sabor, seria apenas areia, e a areia nada valia. O Senhor falou aqui de uma qualidade de vida que devia manifestar-se nos que o conheciam, que aprenderam a sua verdade, que haviam depositado nele a sua fé. Estes deviam ser o sal da terra.
  Em nossa sociedade, empregamos o sal para dar sabor e também como preservativo. Antes de haver refrigeração, preservava-se a carne imergindo-a em salmoura ou esfregando-a com sal, e então levando-a ao sol para secar. Nossos antepassados, viajando através dos prados, dependiam de carne salgada para seu sustento. Devido a este conceito comum, consideramos esta passagem como ensino do Senhor de que os crentes são preservativos. Alguns acham que a presença dos crentes no mundo poupa-o do juízo, e que este mundo é um bom lugar porque aí vivem os crentes. Esta idéia baseia-se num conceito errôneo do que o mundo é aos olhos de Deus. O mundo é totalmente corrupto; o sistema mundial está sob juízo divino, e Deus não está engajado na preservação deste mundo ímpio, destinado à condenação. Quando Cristo disse "Vós sois o sal da terra", não queria dizer que eles, os discípulos, haviam sido postos no meio da corrupção para purificar o que estava contaminado.
  A função primária do sal é criar sede. Sem sal na comida, há ingestão inadequada de líquido, o que redunda em desidratação, que por sua vez causa enfermidade ou morte. Isto se verificava especialmente nas regiões desertas onde o Senhor se encontrava. Se um viajante não bebesse a devida quantidade de água, sofreria desidratação e morte durante a viagem. Portanto, uma parte essencial da bagagem de cada viajante era um saco de sal para prevenir a desidratação e suas conseqüências.
  Sabemos disto mesmo em nossos dias. Os que executam trabalho manual no verão usam comprimidos de sal. Esses comprimidos provocam sede, impedindo assim a perigosa desidratação. Se, porém, substituirmos o sal por um comprimido de areia branca, o resultado inevitável será a desidratação. Quando nosso Senhor disse "Vós sois o sal da terra", dizia aos discípulos que ele os pusera no mundo a fim de provocarem sede dele na vida e experiência dos que morrem porque não conhecem a fonte de água viva. A função do crente é despertar sede de Jesus Cristo.
  O Senhor disse antes: "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos." Sem apetite não se come, e sem comer não haverá sustento. Remova-se o apetite, e o resultado inevitável é a morte. O Senhor disse aos discípulos que ele os havia colocado ali de sorte que suas vidas fossem como sal para aqueles com os quais entrassem em contacto; assim, o que ouvissem de seus lábios e vissem em suas vidas provocaria fome e sede de Cristo, o que impulsionaria os homens a buscá-lo e receber dele a água da vida. Sem sede não se bebe, por conseguinte não se pode viver.
  Um incidente relatado no capítulo 10 de Marcos deixa isto muito claro. Enquanto o Senhor se dirigia a Jericó, encontrou-se com o cego Bartimeu que clamava: "Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!" (v. 47). Os circunstantes procuraram silenciar o cego, mas o Senhor o chamou. Trouxeram-lhe Bartimeu. "Perguntou-lhe Jesus: Que queres que eu te faça?" (v. 51). Enquanto o cego Bartimeu não reconhecesse sua necessidade, não havia como Cristo pudesse satisfazê-la. Por isso ele provocou a confissão de Bartimeu: "Mestre, que eu torne a ver." Em resposta ao seu desejo de ver, Cristo o curou.
  O princípio é muito claro. Cristo pode e quer fazer pelo homem aquilo que o homem reconhece como sua necessidade. Enquanto o homem não admitir que está perdido, não terá desejo algum de ser salvo; enquanto não admitir sua impiedade, não desejará a piedade; enquanto não reconhecer que está separado de Deus, não terá desejo de desfazer a separação. Sem apetite não há pedido. Sem pedido não há ação. Deus colocou os crentes na presença dos não-salvos para que, por suas palavras e vidas pudessem criar nos perdidos a fome daquilo que os satisfez.
  Para suplementar este ensino, o Senhor usou mais uma figura: "Vós sois a luz do mundo" (v. 14). A natureza da luz é brilhar. Não existe luz que não se comunica. Não há luz contida em si mesma. A luz pode originar-se numa estrela distante e percorrer um espaço de anos-luz; todavia, ela não se cansa de brilhar; não cessa de fazê-lo. É de sua natureza brilhar. Cristo disse que nos fez luz do mundo, e sendo assim não podemos encerrar-nos em nós mesmos. É da natureza do filho de Deus comunicar a luz que lhe foi dada. Quem viaja pela Terra Santa fica impressionado com o número de aldeias edificadas sobre os topos das colinas, onde podem ser refrescadas pelas brisas. Ali também podem defender-se melhor dos invasores. Em vindo a noite, a luz das casas nas colinas não pode ocultar-se. De longe sabe-se a localização da aldeia próxima por causa da luz que vem do topo da colina.
  Embora tenhamos inventado métodos de "blackout" em tempo de guerra, o Senhor disse que não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte. É inconcebível que alguém acenda uma lamparina apenas para colocá-la debaixo de uma vasilha de medir, ou debaixo da cama, de sorte que a luz não brilhe. A luz é luz para brilhar.
  Somos veículos por meio dos quais a luz brilha, para que os homens tenham fome e sede de Cristo e possam conhecer o caminho. Uma coisa é dizer a uma pessoa que ela está perdida; outra muito diferente é dizer-lhe como sair dessa situação. Uma coisa é dizer a alguém que ele é culpado; outra, é mostrar a essa pessoa como pode sua culpa ser removida. Uma coisa é dizer a um indivíduo que ele é ímpio; outra, é mostrar-lhe o caminho da piedade. Portanto, essas duas figuras suplementam-se entre si. O crente, como sal, cria na pessoa que se encontra em trevas o desejo de algo diferente do que tem, mas a luz do crente mostra-lhe como sua fome e sede podem ser satisfeitas. O crente não é sal ou luz; ele é sal e luz. Ele desperta o apetite e mostra como satisfazê-lo. Paulo acentuou esta mesma verdade em Filipenses 2:14-16: "Fazei tudo sem murmurações nem contendas; para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo; preservando a palavra da vida, para que, no dia de Cristo, eu me glorie de que não corri em vão, nem me esforcei inutilmente."
Paulo torna bem claro que o crente recebeu luz e deve deixá-la brilhar demonstrando a Palavra da vida. Comunicar a Palavra de Deus é deixar a luz brilhar, como também o é viver segundo as Escrituras diante dos homens. Se o crente se fez luz, deve-se ao ministério da Palavra em sua vida. O brilho da Palavra de Deus é a luz na vida do crente. Paulo ressaltou que nosso relacionamento com a Palavra de Deus é tal que devemos desincumbir-nos de nossa responsabilidade como luz do mundo.
  Esta figura retrata o mundo como estando em trevas e sem luz, e mostra o crente como luz no meio delas. Visto que é da natureza da luz comunicar-se, diz Deus que seu propósito é que a Palavra que se fez luz em nós seja comunicada por nosso intermédio, de sorte que os homens nos quais se criou fome e sede de justiça aproximem-se da luz.
  O Evangelho de João trata do mesmo assunto. Somos apresentados a João Batista que apareceu no meio de trevas morais e religiosas. Sua vinda cumpriu promessa feita na Palavra de Deus-. "Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João [Batista], Este veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele. Ele não era a luz, mas veio para que testificasse da luz" (João 1:6-8).
  João veio como luz, não como foco de atração, mas para refletir a luz que lhe foi dada de modo que, por seu intermédio, os homens fossem atraídos para a fonte de luz. O apóstolo viu o Batista como a luz que refletia a Luz. Seu ministério não devia atrair os homens para si próprio, mas para a Luz. Por isso, quando os homens vieram a João e lhe perguntaram se ele era o Messias, ele disse que não. Ele era uma luz para trazer os homens a Cristo.
  João também era sal mediante sua pregação. Ele criava fome e sede de justiça, mas este fato em si não garante que o homem tenha essas necessidades satisfeitas. É preciso indicar-lhe o Caminho, a fonte de vida. João era, pois, a luz que mostrava aos famintos e sedentos de justiça a fonte da qual jorrava a água viva.
  Falando a esta multidão, o Senhor lhes disse, em realidade: "Os que recebem minha palavra devem fazer o que João Batista fez. Por suas palavras e por sua vida vocês devem criar sede de mim; e para que os homens não tropecem nas trevas, ao buscar-me, mostrem-lhes o caminho. Tragam-nos, pois, a mim, a fonte de água viva, para que sua sede seja saciada; brilhe de tal modo a sua luz que eles próprios encontrem a fonte de Luz."
  Certa vez um estudante cego matriculou-se em nosso seminário. Observei que quando ele ia de uma classe para outra, ou do dormitório para o refeitório, alguém lhe segurava o braço e o guiava. O guia que lhe tomava o braço era sua luz; ele andava na luz de outrem.
  O mundo em que vivemos é cego. Se todos os homens fossem cegos, os cegos não desejariam nada além de sua cegueira. Mas porque vemos, criamos no cego o desejo de ter aquilo que temos e ele não; então nos tornamos em luz do cego e guiamo-lo àquele que é a Luz do mundo.
  O crente é sal para fazer o homem ter sede de Jesus Cristo. Ele é luz para trazer o homem a Cristo. Se o seu padrão de vida assemelha-se de tal modo ao padrão de vida do não-salvo que ele não consegue ver nenhuma diferença entre ele e o crente, jamais o crente criará nele sede do que tem. O sal não exerce a sua função sendo apenas como o alimento no qual é colocado. O sal tem de ser diferente para servir ao seu propósito. Enquanto não houver transformação em sua conduta diária, o crente nunca será sal. Sem a Palavra de Deus a pessoa nunca poderá ser luz. Deus nos chama de um mundo do qual fomos salvos para um novo tipo de vida, para que sejamos sal; e deu-nos a Palavra para que sejamos luz aos perdidos.

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