terça-feira, 16 de novembro de 2010

A ORAÇÃO DE JESUS POR TODOS OS SEUS – João 17.24-26

– Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo.
– Pai justo, o mundo não te conheceu; eu, porém, te conheci, e também estes compreenderam que tu me enviaste.
– Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja.
24 A oração aproxima-se do fim. Nesse momento, porém, ela também atinge seu majestoso clímax. ―Pai, aquilo que me deste. Jesus contempla agora todos os seus até o fim dos tempos. Ele vê a ―grande multidão… (Ap 7.9),o fruto maduro de sua obra. Por ser ela o ―salário de suas dores, a prece de Jesus pode tornar-se um ―quero: ―Quero que onde eu mesmo estou, estejam também comigo aqueles, para que vejam a minha glória. Por trás de toda oração genuína existe uma vontade clara. Quando uma pessoa que ora de fato não ―quer mais algo, sua oração se torna mera falação. Contudo, enquanto nós precisamos condicionar nosso querer, mesmo o mais puro, à vontade de Deus, prontos para o arrependimento, Jesus pode ter tanta certeza da unidade com Deus que pode afirmar: ―Pai, eu quero. O Filho tem a liberdade de dizer ao Pai o que ―quer com a máxima seriedade de seu amor. Ele não tem apenas um interesse temporário e instável pelos seus. Com amor pleno, ele ―quer a comunhão indissolúvel e completa com eles. Nesse querer ele tem a certeza de que essa é também a vontade incondicional do Pai. É para isso que o Pai lhe ―deu essas pessoas, separando-as do mundo. O que inicialmente era exigência a seus discípulos: ―Onde eu estou, ali estará também o meu servo (Jo 12.26), torna-se agora promessa de vida eterna: ―que, onde eu mesmo estou, estejam comigo também aqueles. É nessa situação que ―vêem a sua glória. Até o aperfeiçoamento na eternidade, o ser humano como criatura persiste na situação de não conseguir encontrar a vida e a alegria em si mesmo. O ser humano precisa ter algo para ―ver. Contudo, como tudo isso continua sendo transitório e precário! Estaremos eternamente realizados e repletos de alegria indizível (1Pe 1.8), quando virmos a glória de Jesus de forma desvelada, a glória que procede do amor eterno de Deus.
Isso não é algo completamente novo para os discípulos de Jesus! Já na sua vida atual vale o que diz Jo 1.14: ―Vimos sua glória. Porém, o que até agora não passava de um começo, torna-se cumprimento pleno. Nessa afirmação a glória de Jesus não é apenas um resplendor indefinido e brilhante. Jesus sentado à direita de Deus sobre o trono do mundo, Jesus retornando para arrebatar e aperfeiçoar sua igreja (1Ts 4.13-17), Jesus derrubando o poder mundial anticristão com o hálito de sua boca (2Ts 2.8; Ap 19.11-16), Jesus governando sacerdotalmente com os seus (Ap 20.4-6), Jesus realizando o juízo sobre o mundo (Ap 20.11-15), Jesus entregando ao Pai uma criação redimida após completar sua obra (1Co 15.28): tudo isso deve estar diante de nós quando Jesus diz: ―minha glória.
Contudo, tampouco o Filho possui essa glória em si mesmo como propriedade sua, e nem quer possuí-la dessa maneira. Somente a tem como uma glória ―que me conferiste. A razão, porém, para essa concessão por parte do Pai reside no Seu próprio amor: ―porque me amaste antes da fundação do mundo. Nesse último diálogo com o Pai o pensamento do Filho chega até aquele ―princípio com o qual o próprio evangelho começa em Jo 1.1. Nesse amor ele também estará abrigado quando o clamor do abandono por Deus em prol dos pecadores brota de seu coração.
25 Mais uma vez acrescenta-se um adjetivo ao singelo nome do Pai: ―Pai justo. Precisamente quando se fala do amor de Deus é preciso testemunhar que esse amor jamais se separa da ―justiça. O ―Pai justo rejeita o pecado de forma incondicional. Foi isso que ―o mundonão reconheceu, porque não quer conhecê-lo. A unidade de justiça e amor (e por isso também de ―amor e ―ira de Deus) permanece incompreensível para nós até que a reconheçamos na cruz de Jesus, para o nosso juízo e a nossa salvação. ―Pai justo, e o mundo não te reconheceu; eu, porém, te reconheci, e também esses reconheceram que tu me enviaste. Jesus ―reconheceu a Deus justamente no tocante à sua santidade, à sua ―justiça, que tornou a entrega do único Filho e sua exaltação na cruz necessária para satisfazer seu amor pelo mundo dos perdidos. Esse ―reconhecer por parte de Jesus não se limitou a uma contemplação teórica, mas o conduziu em todo o caminho da encarnação até a morte na cruz. Conseqüentemente, os discípulos por sua vez ―reconheceram o envio de Jesus justamente na cruz. É óbvio que com relação à palavra de Jesus em Jo 16.31s temos de afirmar: Jesus antecipa na oração o ―reconhecimento nos discípulos depois da cruz e ressurreição. Desde então, porém, isso não era uma mera teoria teológica para eles, mas transformou-os nas testemunhas que empenharam sua alma em prol de um mundo perdido.
26 Os discípulos não produzem esse ―reconhecer de si mesmos. Ele brota do ―fazer conhecer da parte de Jesus: ―E eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer. Como deve acontecer um ―reconhecimento genuíno, é novamente o ―nome de Deus que está sendo dado a conhecer (cf. o comentário ao v. 6). Os discípulos não apenas sabem ―que existe um Deus, mas têm o privilégio de saber como Deus se chama, ou seja, quem Deus é. Deus lhes foi ―apresentado e ―tornado conhecido. Tratam a Deus corretamente por Seu nome e por isso não falam com o vazio. A revelação que Jesus lhes trouxe não é mística e sentimental, mas uma palavra explícita. Ao acrescentar: ―e ainda o farei conhecer, Jesus pensa no fato de que, apesar de sua nitidez, o reconhecimento de Deus nunca é mera posse, pois o Deus vivo não é um objeto do mundo, do qual eu disponho tão logo o reconheça. Preciso que Jesus me apresente o nome de Deus constantemente, porque esse nome está ameaçado continuamente ameaçado de submergir no barulho do mundo e de ser obscurecido pela escuridão de meu próprio coração. Simultaneamente, o nome de Deus está carregado de uma riqueza tão infinita e de uma profundeza tão impossível de encerrar que o ―fazer conhecer é interminável. Cabe-nos lembrar também que esse ―fazer conhecer o nome de Deus prossegue no serviço apostólico dos discípulos e por isso Jesus o considera como sua própria obra futura nesse último diálogo com o Pai. Quando pessoas aceitam a fé por meio da palavra dos discípulos (v. 20), então o próprio Jesus tornou o nome do Pai conhecido nessa palavra.
A guinada, inicialmente surpreendente, dessa última palavra de oração de Jesus demonstra em seu término que se trata muito pouco de um reconhecimento teórico que posso obter teologicamente em livros. Jesus tornou conhecido o nome de Deus e continuará a divulgá-lo de modo mais amplo e profundo, ―a fim de que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja. Para o israelita, ―reconhecer e ―amar era coisas estreitamente ligadas. Empregava o termo ―conhecer para o amor conjugal (Gn 4.1; 4.17). Quando se ―reconhece alguém, acontecem ligações substanciais. Quando por meio de Jesus os discípulos reconhecem o ―nome do Pai, seu verdadeiro ser, então o amor com que Deus ama seu Filho também flui para o coração deles. Do mesmo modo, Jesus não permanece diante deles como ―Mestre, mas os ensina de tal modo que ele próprio entra neles e vive dentro deles. No entanto, isso não acontece por meio de uma fusão mística, mas pelo Espírito Santo. Jesus continua sendo uma pessoa e o Senhor. Os discípulos continuam sendo pessoas independentes, e, apesar disso, Cristo vive neles e determina todo o seu pensar, falar e agir.

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